A primeira recessão por dois anos seguidos começou em 1930, com a depressão nos Estados Unidos e a queda dos preços do café. O último exemplo tão negativo quanto o atual governo foi o de 1990, durante o governo Collor.

O momento sombrio pelo qual atravessa a economia brasileira tem apenas quatro precedentes nos últimos 86 anos.

Vejamos. É inevitável que 2016 apresente um desempenho tão pífio quanto no ano passado, conforme as previsões do boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, com base na opinião de economistas de instituições financeiras.

A previsão de queda para 2016 está se acentuando. Era de 2,81 no final de dezembro, passou para 2,95% nesta segunda-feira (11/01).

Já que em 2015 o país também enfrentou queda do PIB (Produto Interno Bruto) estimada em 3,71%, os dois anos seguidos de encolhimento da produção é algo que aconteceu apenas quatro vezes desde 1889 (Proclamação da República), quando as estatísticas passaram a ser feitas com maior racionalidade.

As quatro recessões têm um perfil bem diferente uma da outra --e não há uma terapia política que tenha sido eficiente para todas elas. E as medidas do passado também não valem para hoje.

A primeira recessão aguda castigou a economia brasileira em 1930 e 1931. O PIB emagreceu 2,2% no primeiro ano, e 3,3% no segundo. Foram basicamente os efeitos da depressão americana no mercado mundial do café.

O governo brasileiro optou por queimar boa parte de seus estoques para impedir que os preços caíssem abaixo dos custos do frete de exportação. Sessenta por cento do café consumido em todo o mundo vinha do Brasil, que extraía do produto 70% de suas receitas.

A queima foi concentrada no porto de Santos e durou seis meses. As exportações em 1929 eram de US$ 445 milhões. Caíram para US$ 180 milhões no ano seguinte. E a saca do café, cotada em 200 mil réis, caiu para 21 mil réis.

O país obviamente quebrou e enfrentou uma dura crise cambial. Mas o importante é que a migração dos desempregados do campo para as cidades favoreceu o crescimento industrial, que daria ao país uma década depois um novo perfil econômico.

Não foi um processo automático do mercado. O Estado interveio diretamente na economia, com suas políticas de substituição de importações, criação de grandes estatais (Vale, Siderúrgica Nacional) e sistema de financiamento – Banco do Brasil e, em 1953, o BNDES.

A relação entre política e economia naquele período é meio óbvia. Seja com o Governo Provisório (1930-1937), seja com o Estado Novo (1939-1945), Getúlio Vargas dispunha de uma centralização brutal de poderes.

Ele ainda contava com uma mentalidade pela qual a agricultura, a indústria e o sistema financeiro atuavam debaixo do mecenato do Estado. Foi a exacerbação do patrimonialismo, tão bem estudado em 1958 por Raymundo Faoro.

O mesmo Estado estava presente em 1940, quando o PIB caiu 1% e 2,7% em 1942. O que basicamente ocorreu foi uma desorganização do comércio internacional, provocada pela Segunda Guerra, por mais que as exportações representassem pouco mais de 10% do PIB, e apesar de as importações ainda se concentrarem em produtos essenciais (bens de capital, química e produtos primários, como o trigo).

Os problemas internos já vinham de antes, com a crise cambial de 1937, que levou à suspensão dos pagamentos aos credores externos por dois anos.

Em 1940 os Estados Unidos fixam preços preferenciais para produtos latino-americanos de exportação e para o café brasileiro, à espera de passar também a importar um leque de commodities que os americanos definiram para o seu esforço de guerra.

Foi quando, impulsionado nos anos anteriores pelo New Deal, a economia americana voltou a crescer bastante e, com ela, a economia do Brasil.

Também foi uma crise cambial que levou o PIB brasileiro a cair 4,25% em 1981 e 2,93% em 1983. O contexto internacional era outro. As balanças comerciais e de pagamentos sofriam os efeitos de dois choques traumáticos nos preços do petróleo.

O impacto de 1973 já havia sido absorvido, mas o de 1979 – com a Revolução Islâmica no Irã – atropelou o processo ocidental de recuperação.

O governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985) enfrentava uma crise de legitimidade política que se exemplificaria em 1984 pelo sucesso inequívoco das manifestações de rua das Diretas-Já.

Antes disso, em 1982, a oposição aos militares elegeu governadores em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Em termos factuais, o pivô da crise foi, em agosto de 1982, a moratória do México, que arrastou em poucos dias o Brasil e pôs fim a um modelo de desenvolvimento que aliava substituição de importações e um forte financiamento externo.

O país, sem instrumentos políticos suficientemente fortes, entrava no período que passou a se chamar de “a década perdida” (inflação média na década de 233% ao ano), cujos efeitos persistiram mesmo depois da redemocratização, em 1985.

A quarta crise de crescimento, e a última antes da atual, teve como pivô, em 1990, o início do governo de Fernando Collor de Mello (queda do PIB em 4,35%) e o ensandecido plano de combate à inflação que congelou parte da base monetária e paralisou o mercado de maneira traumática.

O IGP de 1989 caiu de 1700% para 458% em 1990, e depois voltou a progredir em percentagens superiores.

A questão básica do curto período de quase três anos do governo Collor esteve na desconfiança mútua entre o governo e a sociedade. Dentro desse mecanismo, nada ou muito pouco poderia dar certo.

E chegamos a 2015, quando o declínio da economia era visível ao menos depois do segundo trimestre do ano anterior. Os gastos excessivos do governo em ano eleitoral procuraram ocultar o tamanho da crise fiscal, que eclodiu em sua dramática magnitude sobre o colo da presidente Dilma Rousseff.