"Por essa ninguém esperava. Daqui a pouco não vamos ter nem onde sentar e tão pouco onde guardar nossas coisas, comenta Canindé Pegado, presidente do SINCAB. O Brasil está se acabando pouco a pouco. A cada semana que passa, temos notícias de algum ramo de atividade afundando. Minas gerais é um pólo importantíssimo na produção de móveis para o país. Não é justo que o governo  federal com essa sua política econômica desastrada deixe fechar indústrias tão importantes para o nosso país e mandar milhares de trabalhadores para casa desempregados, emenda Pegado".

Galpões quase vazios e máquinas em ritmo lento compõem o retrato da crise do maior pólo de móveis residenciais do Sudeste, na zona da mata de Minas Gerais.

Após anos de crescimento, a crise derrubou as vendas do ramo e gerou uma onda de demissões no polo formado por Ubá e mais sete cidades e cuja base econômica depende das cerca de 300 fábricas de móveis —12 fecharam nos últimos dois anos, segundo o sindicato moveleiro local.

Segundo dados do Ministério do Trabalho, 2.227 vagas do setor foram fechadas na região em 2015 -algo como 15% do total. Restariam 13.206. Mas empresários estimam mais mil demissões neste início de ano.

"As empresas evitaram ao máximo as demissões na esperança de recuperar vendas. Demitir é muito caro. Mas chega um momento em que é preciso", disse o Michel Pires, dono da fábrica Modecor, um das que cortaram.

A fabricante Móveis Palmeira, uma das tradicionais da região, entrou em recuperação judicial em 2015, após uma queda de 30% nas vendas e agora conta com pouco mais de dez funcionários.

"Demitimos 50 trabalhadores em 2015. Estamos funcionado em apenas um turno e em período parcial, de quatro dias na semana", disse Robério Teixeira da Silva, um dos sócio da Palmeira, fundada há 36 anos em Ubá.

 

'CONTAS A PAGAR'

Na última segunda-feira (22), Viviane Pinheiro, 27, aguardava a vez para homologar sua demissão no Sindicato dos Marceneiros de Ubá, ao lado de dez colegas. Novos grupos de demitidos chegavam de uma em uma hora.

Costureira de colchões, ela foi demitida pouco depois do Carnaval. Sem perspectivas de vagas, decidiu voltar a trabalhar em casa como manicure.

"Manicure não tem estabilidade de renda, mas é a opção. Eu tenho contas a pagar, prestação da moto, de casa. O meu marido também perdeu emprego e agora está trabalhando de servente."

Dias antes tinha sido a vez de Marcelo de Almeida, 36, ser dispensado. Casado e com uma filha de 4 anos, ele imaginava que a pior fase da crise tinha ficado para trás, com as demissões de 2015.

"Foi uma surpresa, achava que era algo passageiro", diz Almeida, que trabalha no setor desde os 11 anos.

As vendas de móveis foram uma das mais afetadas por se tratar de um consumo adiável. Num cenário de recessão, famílias adiam a troca do armário e do sofá.