O número de habitantes nas cidades cresce a uma velocidade assustadora: 65,7 milhões a mais por ano, segundo o Banco Mundial. Nos próximos 30 anos, elas receberão mais dois bilhões de pessoas, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), passando de 3,9 bilhões atuais para mais de seis bilhões, concentrando em zonas urbanas mais de dois terços da população do planeta.

Gente que precisará de transporte, segurança, habitação, energia, água, saneamento, saúde e inúmeros outros serviços da administração pública. Para as prefeituras e governos centrais, é um desafio gigantesco. Para as empresas que desenvolvem soluções para o setor, uma oportunidade de tamanho idêntico - há previsões como as do IDC, por exemplo, segundo as quais esse já é um mercado de US$ 6,1 bilhões por ano para as empresas de tecnologia, e alcançará US$ 20,2 bilhões em 2020. Para a totalidade das empresas, o mercado é muito maior - só a China está gastando o equivalente a US$ 10,8 bilhões este ano em soluções para "cidades inteligentes".

 

As dimensões e complexidade dos problemas urbanos e a urgência para resolvê-los passaram a exigir soluções que contenham muita inovação e tecnologia, razão pela qual empresas como GE, Intel, Microsoft, Oracle, Cisco, Siemens, Philips, IBM e outras dão atenção especial ao tema. E as soluções que elas implantam estão pouco a pouco dotando as cidades de sensibilidade a vários tipos de estímulos (luminosos, sonoros, elétricos ou textuais, por exemplo), tornando-as capazes de captar informações dos cidadãos e de reagir, prestando a eles serviços com qualidade e rapidez, além de informá-los sobre o andamento do que foi solicitado.

 

Os estímulos que fazem uma cidade reagir vêm dos mais variados tipos de sensores - câmeras, radares, alarmes, telefones fixos ou celulares e mesmo tweets de cidadãos conectados à internet. O presidente da Intel no Brasil, Fernando Martins, relembra as previsões de que até o fim desta década haverá cerca de 21 bilhões de dispositivos eletrônicos no planeta, média de três por pessoa, transmitindo informações sobre quase tudo. Martins acrescenta que a "internet das coisas" está em plena implantação, fazendo com que geladeiras, TVs, automóveis, tablets se comuniquem e interajam para o bem estar de todos. A arquiteta e pesquisadora Susan Piedmont-Palladino, diretora do programa Cidades Inteligentes no Museu Nacional da Construção, em Washington, lembra que "o casamento do automóvel com o ar-condicionado transformou ruas em estradas e esvaziou as praças". Agora, as cidades com wi-fi em locais públicos podem trazer as pessoas de volta.

 

O resultado dessa interação entre sensores, habitantes conectados e novos sistemas de gestão de recursos públicos é um aperfeiçoamento da eficácia do Estado em temas como mobilidade urbana, sustentabilidade, segurança e outros. Cézar Taurion, executivo de novas tecnologias da IBM Brasil, conta que a empresa vê com nitidez os problemas urbanos e as soluções que ela pode desenvolver para resolvê-los: "Hoje, um cidadão com smartphone e GPS pode interagir com a prefeitura informando onde existe um buraco na rua, por exemplo. Ao mesmo tempo, sensores podem monitorar o trânsito, calcular melhor o tempo ideal de abertura dos semáforos e assim melhorar o fluxo de veículos; imagens de câmeras podem alimentar sistemas que identifiquem criminosos, aumentando a segurança nas cidades", descreve.

 

"É o conceito sob o qual trabalhamos no desenvolvimento do Centro de Operações da Prefeitura do Rio", acrescenta. Ali estão integrados as imagens de 500 câmeras e os sistemas de 30 órgãos públicos, monitorando 24 horas por dia o cotidiano da cidade, para que ela reaja com o menor tempo e maior eficácia possíveis. "Sensores nas ruas podem nos indicar o fluxo de tráfego e auxiliar na sincronização dos semáforos, câmeras podem identificar nas ruas criminosos à solta, e tudo isso pode ser integrado em sistemas para os gestores públicos", completa Taurion.

 

As cidades podem ser tanto mais inteligentes quanto seja sua maturidade política e administrativa, lembra ele, porque é necessária sincronização perfeita entre todos os parceiros para atuação em conjunto. Só assim se alcançam resultados como em Cingapura, onde um projeto da IBM é capaz de fazer previsões de congestionamentos, tal como se prevê o tempo: "A combinação de sensores e dados históricos num sistema apropriado permite que as autoridades controlem melhor o fluxo de trânsito e assim tornem mais confortável a vida dos cidadãos", acrescenta Taurion. Mas ele alerta: "Para se ter uma cidade inteligente, não se faz tudo ao mesmo tempo - tornar-se inteligente é uma evolução. Não há sistema que faça isso e não há uma cidade igual a outra, seja em recursos ou prioridades".

 

Se há um ponto de partida para qualquer cidade se tornar inteligente, na opinião dos engenheiros da Cisco, ele está na conectividade: qualquer investimento de inteligência em uma delas exige redes interconectadas, de modo que a prestação de serviços e suas informações possam fluir rapidamente entre cidadãos e poder público, lembra Amos Maidantchik, diretor da Cisco para setor público no Brasil. Para atender a projetos dessa ordem, a empresa abriu o programa "Smart+Conected Communities", destinado a oferecer soluções que atendam aos desafios urbanos. "A evolução é muito lenta, mas constante", diz Maidantchik. "Cada vez mais a tecnologia permeia os serviços públicos e não há como não usá-los integrados, em rede", completa.

 

Na Coreia, a Cisco é parceira da construção de Songdo, um novo distrito em Incheon, a 65 km de Seul, concebido desde o projeto como cidade inteligente, e que pronto, em 2015, terá custado US$ 35 bilhões - um lugar onde o lixo de 65 mil habitantes é coletado em dutos pneumáticos e transportado automaticamente para reciclagem, e onde cada apartamento e cada empresa tem uma instalação de telepresença com tela plana. "Temos esses sistemas no Centro de Operações da Prefeitura do Rio e também na residência oficial do prefeito", para uso inclusive em emergências, lembra Maidantchik.

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