Uma das principais metas de Zeinal Bava, ex-presidente da holding da Portugal Telecom, que está há dois meses no comando da Oi, é puxar para baixo a atual taxa de desconexão ("churn") de clientes. Segundo apurou o Valor, o objetivo perseguido por Bava é atingir, entre os próximos seis a 12 meses, uma taxa de desligamento abaixo de 2%. Hoje, o cancelamento de contas está em 2,6% mensais, apurou o Valor.

Esse indicador engloba todos os serviços prestados pela operadora - telefonia móvel, fixa, banda larga e TV por assinatura. Na telefonia móvel, a desconexão é ainda maior, 4%. O Valor apurou que, se a empresa mantém a taxa de rotatividade em 2,6% ao mês, a cada três anos a Oi troca 100% da sua base de assinantes. Com isso, a geração de caixa da companhia fica sensivelmente comprometida e, por consequência, afeta também o nível de investimentos e o pagamento da dívida.

Para atingir a meta estipulada, a Oi decidiu atacar pontos falhos do seu serviço de campo. Os profissionais estão sendo treinados para atuar com maior precisão. A tele está disposta a eliminar casos, por exemplo, em que um cliente pede um serviço de TV paga, mas recebe banda larga.

A Oi decidiu ainda tornar mais criterioso o filtro para oferta de promoções. Para isso, passou a determinar às revendas que os produtos respeitem o perfil econômico do cliente. Uma das iniciativas é não pressionar a migração de clientes pré-pagos para planos pós, quando sua renda não for suficiente para isso, por exemplo. Embora o pós-pago seja mais rentável para a tele, em muitos casos o cliente não poderia arcar com a nova conta no médio prazo.

Entre as iniciativas para reduzir a alta rotatividade está a adoção de um aplicativo para fazer o gerenciamento da força de trabalho das equipes de campo. A partir da internalização de terceiros para serviços de operação e manutenção de redes este ano - foram contratadas pelo menos 4,4 mil pessoas -, a Oi sentiu a necessidade de reorganizar os processos. O aplicativo vai indicar, por exemplo, que equipe especializada está mais próxima e mais apta para cumprir determinada ordem de serviço.

A estratégia da tele é desacelerar para crescer de forma saudável. No entanto, o mercado não recebeu bem as novidades. A Oi ON fechou o pregão de ontem com a maior perda do Ibovespa: queda de 8,92% para R$ 4,49. Já o papel PN representou a segunda maior baixa do índice: 7,39%, para R$ 4,13. No pregão, o Ibovespa subiu 0,58%.

A empresa encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 124,2 milhões, perante um lucro líquido de R$ 347 milhões do mesmo período do ano passado. A receita líquida subiu 2,4%, para R$ 7,07 bilhões, em linha com as expectativas de analistas consultados pelo Valor. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou abaixo do previsto: queda de 16,4%, para R$ 1,79 bilhão.

O mercado se surpreendeu com o aumento da provisão para devedores duvidosos, que cresceu 97%, para R$ 323 milhões. Em teleconferência com analistas, Bava garantiu que o patamar de R$ 100 milhões por mês para isso é insustentável. "Nossa expectativa é que esse número chegue a R$ 50 milhões ao mês, como já chegou a ser no passado", afirmou.

O executivo, no entanto, evitou comentar a possibilidade de a Telemar Participações, controladora da Oi, receber um aporte de capital, o que poderia gerar uma reestruturação societária na companhia. Isso poderia ocorrer porque a Telemar sobrevive de dividendos da Oi e tem uma dívida elevada. Tendo em vista a decisão da tele de limitar o pagamento de dividendos a R$ 500 milhões ao ano, um quarto do valor anteriormente previsto, sua capacidade de pagar as dívidas ficaria comprometida. "A economia de custos precisa ser feita com o sacrifício de todos", disse Bava, a respeito do corte nos dividendos.

Ontem, durante teleconferência de resultados da Portugal Telecom, o principal executivo de finanças da empresa, Luis Pacheco de Melo, não descartou uma operação de capitalização na Telemar e disse que questão seria analisada com os sócios.

O Valor apurou que os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte, que fazem parte do bloco de controle da Telemar, não querem uma reestruturação societária da tele. Ambos estão dispostos a acompanhar um eventual aporte de capital da Portugal Telecom, para que as suas participações na companhia não sejam diluídas.

Hoje, a Portugal Telecom tem 25,61% da Telemar, contando as participações indiretas que a empresa tem na Andrade Gutierrez Telecom e na La Fonte Telecom. Essas duas têm, cada uma, 19,35% da Telemar. A Fundação Atlântico (fundo de pensão dos funcionários da Telemar) é dona de 11,5%. Empresas e fundos de estatais fecham a composição acionária: BNDESPar (13,08%), Previ (9,69%), Petros (7,48%) e Funcef (7,48%).