Se fosse uma companhia de TV paga, a pirataria seria a segunda maior empresa do setor no Brasil em número de usuários, perdendo apenas para a Net /Embratel. É o que mostra uma pesquisa da consultoria Business Bureau, revelada ao VALOR com exclusividade.

Segundo o levantamento, existem 7 milhões de lares conectados a serviços pirateados no país. O número rivaliza com a base de assinantes da Net, de 8,9 milhões até maio, segundo o relatório mais recente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e supera a da Sky /Directv, de 5,2 milhões. Oficialmente, sem contar os “piratas”, existem 16,9 milhões de assinantes de TV por assinatura no Brasil.

O chamado “Gatonet” ocasiona uma perda média de R$ 2 bilhões por ano, o equivalente a quase um trimestre de receitas da Net. Na América Latina, as perdas anuais variam de US$ 2,5 bilhões a US$ 2,8 bilhões.

Que conclusões podemos tirar disso? Os dados não eram conhecidos, e assustam por sua magnitude; mas todos sabiam que a pirataria é enorme nesse setor, como em tantos outros. O que isso quer dizer? Como explicar esse fenômeno?

Tenho algumas teses. Em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, invoco a velha Lei de Gérson, tão disseminada abaixo da linha do Equador. A turma quer levar vantagem em tudo, quer consumir sem pagar. Como tenho dito e repetido, há malandro demais para otário de menos. Claro que o preço pago pelos “otários”, ou seja, aqueles corretos que seguem as regras, acaba sendo muito maior, para levar na carona grátis os malandros.

Abro aqui um pequeno parêntese para derrubar um mito esquerdista muito difundido: o de que os pobres tendem a ser mais honestos. Quem disse? A pirataria, como sabemos, rola solta na periferia, nas “comunidades”, eufemismo para favelas. É verdade que muitas vezes a milícia não deixa alternativa. Mas muito pobre também quer se dar bem sem ter que pagar por isso. Quero ver um sociólogo admitir isso. Fecho o parêntese.

Outra explicação está na impunidade. Podemos aceitar que o ser humano, se puder, demonstrará certa inclinação à malandragem. Que seja. Mas ele reage a incentivos. Se o custo da malandragem for elevado, isso sem dúvida irá reduzi-la. A impunidade é o grande convite ao crime.

Uma terceira causa é sem dúvida o preço alto da legalidade, basicamente por conta dos impostos do governo. Um dos mercados com maior taxa de pirataria deixa isso claro: o contrabando de cigarros é gigantesco e abarca cerca de um terço do mercado total, pois os impostos são astronômicos. Paraguai agradece, enquanto o fumante ingere coisa ainda pior em seu corpo.

Por fim, vivemos na era do “tudo grátis”, graças aos avanços tecnológicos que tornaram a pirataria algo mais simples. A juventude, principalmente, acostumou-se a consumir sem pagar. Vale para música, filme, livro, informação, quase tudo! Isso gerou uma sensação de que, se posso, tenho o direito de fazer. Como crianças mimadas, eles batem os pés no chão e demandam bens e serviços gratuitos, e que os produtores se virem para arcar com os custos.

Juntando tudo e batendo no liqüidificador, podemos concluir que fornecer certos serviços em um país como o Brasil é mesmo complicado. E consumi-los pagando tudo por dentro, como manda o figurino, é ainda mais complicado. Bem-vindo ao time dos “otários”…

Go to top
JSN Boot template designed by JoomlaShine.com