Pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) aponta que 77% dos trabalhadores que têm dívidas contraídas no cartão de crédito e cheque especial pensam em usar o 13º salário para quitar essas dívidas.

No entanto, usar esse dinheiro extra para quitar qualquer tipo de dívida sem análise pode ser um equívoco.

Segundo o consultor de finanças pessoais, palestrante e diretor do Grupo Par, Marcelo Maron, o uso indiscriminado do 13º para a quitação de dívidas pode prejudicar os consumidores.

A melhor alternativa pode ser aguardar um momento mais propício para negociar. "Dependendo do estágio da negociação, os descontos para quitação podem chegar a 90% da dívida", diz.

Comprar uma geladeira e pagar um carro por causa dos juros

Para Maron, se o devedor está com o nome sujo e a dívida já cresceu muito pela incidência dos juros, é um erro grave usar o dinheiro do 13º para quitá-la imediatamente.

"Endurecer a negociação tendo dinheiro na mão pode ser uma maneira de conseguir trazer a dívida a um nível mais condizente com a realidade. Não tem sentido você começar devendo uma geladeira e ter que pagar um carro zero por conta dos juros."

Parece irreal? Como alguns cartões de crédito cobram 10% ao mês de juros no caso de inadimplência, após 18 meses uma dívida de R$ 5.000 alcançaria R$ 27.800, afirma Moran.

 

CRESCIMENTO DE UMA DÍVIDA DE R$ 5.000 EM 18 MESES

TIPO DE DÍVIDA TAXA DE JUROS TOTAL DA DÍVIDA
CARTÃO DE CRÉDITO 10% AO MÊS R$ 27.800
CDC 3% AO MÊS R$ 8.500
CRÉDITO COM CARRO EM GARANTIA 0,99% AO MÊS R$ 5.970
  • FONTE: MARCELO MORAN

Uma estratégia mais inteligente seria trocar essa dívida por outra menos onerosa, como um crédito direto ao consumidor (CDC), com juros de 3% em média. Em 18 meses, a dívida de R$ 5.000, com juros de 3% ao mês, ficaria em R$ 8.500.

"Não estou dizendo que as pessoas não devem pagar suas dívidas, mas sim que devem pagá-las com mais cuidado, sem aceitar qualquer tipo de proposta", diz.

3 estágios de dívidas

Segundo Maron, o consumidor deve aprender que as dívidas têm três tipos de estágio e que é no segundo deles que fica mais difícil conseguir uma boa negociação.

O primeiro estágio é aquele no qual o consumidor ainda não teve seu nome sujo e os juros não fizeram grandes estragos no orçamento.

"É quando a pessoa começa a entrar no cheque especial ou está pagando o rotativo do cartão de crédito, mas ainda não ficou com o nome sujo e a dívida não cresceu muito. Nesse caso, é melhor quitar o débito para evitar futuras dores de cabeça", diz.

Como nenhuma aplicação vai render o juro cobrado pelo cartão ou pelo cheque especial, o melhor é se livrar logo da dívida.

2º estágio é mais complicado para negociar

O segundo estágio é aquele em que a pessoa não pagou a dívida, já ficou com o nome sujo e o credor começa a cobrança.

Essa etapa tem início quando a própria instituição financeira começa a mandar propostas para um acordo que costumam ser bem pouco atraentes para o devedor.

"São propostas inicialmente ridículas, na qual a instituição manda uma série de parcelas com juros altos e tentativa de renegociação de contrato, onde o consumidor acaba trocando um contrato mais benéfico como o do cartão de crédito por outro mais prejudicial para o devedor", diz.

Esses contratos procuram "amarrar" o devedor a cláusulas de garantia que, ainda que não sejam possíveis de serem executadas, exercem uma pressão psicológica negativa no devedor e em sua família. "Muitos ficam desesperados e não aguentam a pressão", diz.

Maron diz que é importante que o devedor resista a essas pressões e se apegue ao seu contrato inicial, sabendo que a instituição financeira já provisiona o inadimplente como um caso perdido e que tudo que obtiver dele será contabilizado como lucro posteriormente. "Muitos escritórios de cobrança fazem ameaças e insultam o devedor", diz. Essa prática é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

 "Se a pessoa está inadimplente, ela precisa se organizar primeiro para poder pagar corretamente", afirma Maron. "Se a pessoa está desempregada e momentaneamente sem renda, o que ela pode fazer?"

No 3º estágio, credor costuma ser mais flexível

O terceiro estágio da dívida normalmente acontece quando o consumidor está prestes a ter seu nome excluído do cadastro de inadimplentes após cinco anos de inclusão.

"Nesses casos, o consumidor já foi extremamente prejudicado por perder o crédito, e a grande arma de pressão do credor, que é o nome sujo, está prestes a perder efeito. Nesse caso, para não perder tudo, os credores costumam fazer boas negociações, que podem chegar a 90% de desconto da dívida.

A inadimplência é negativa para ambas as partes, e é por isso que o melhor a fazer, segundo Maron, é procurar alternativas para pagar o débito antes mesmo de ficar inadimplente, porque depois tudo fica mais difícil.

Trocar a dívida, por exemplo, é uma saída que normalmente só é possível para quem ainda está com o nome limpo.

"Quem tem um carro pode tentar o empréstimo com garantia, que, nesse caso, costuma ter uma taxa de 0,99% ao mês. Neste caso, aquela dívida de R$ 5.000, após 18 meses estaria custando R$ 5.970."

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