Robert Gordon, um economista de 73 anos, acredita que os bons tempos já passaram. Depois de um século de inovações revolucionárias que geraram crescimento, o progresso humano está ficando cada vez mais lento, diz.

Já o também economista Joel Mokyr, que tem 67 anos, imagina o surgimento de uma nova era de invenções, inclusive terapias genéticas para prolongar a vida e sementes milagrosas que podem alimentar o mundo sem a necessidade de fertilizantes.

Os dois conceituados colegas, que há 40 anos são professores na Universidade Northwestern, no Estado americano de Illinois, representam polos opostos do debate sobre o futuro da economia do século XXI: de um lado, rápida inovação liderada pela manufatura robótica, impressão em 3-D e computação em nuvem; do outro, anos de perdas de empregos, salários estagnados e desigualdade crescente.

As visões divergentes são mais que acadêmicas. Para muitos americanos, a recessão trouxe o desemprego e deprimiu salários e o preço dos imóveis. A questão, hoje, é se os tempos duros chegaram para ficar. A resposta depende de a quem você pergunta.

"Acredito que o ritmo das inovações está ficando cada vez mais rápido", diz Mokyr.

"Que prova você tem?" devolve Gordon. "Não há nenhuma."

Os dois até se entendem sobre outros assuntos, mas, quando se trata do futuro, batem de frente. Quando Mokyr descreve os avanços medicinais para prolongar a vida, Gordon interrompe: "Prolongar a vida sem curar o Alzheimer significa que as pessoas vão poder andar, mas não pensar."

A divergência transformou os dois em palestrantes populares — pelo menos entre economistas. Gordon começou recentemente a cobrar até US$ 20.000 por palestras nos Estados Unidos, soma definida por seu agente, diz ele.

Até nisso os dois são diferentes. Mokyr diz que não tem agente e cobra o que lhe pagam. "Se não for suficiente, não vou."

Os professores abriram um evento no banco central da Coreia do Sul, em Seul, no início do mês. "Sempre vamos no mano a mano", diz Mokyr. "Mas, geralmente, acabamos falando de coisas diferentes. Bob é macroeconomista. Eu sou historiador econômico."

Mokyr há muito estuda como novas ferramentas revolucionaram a economia. Por exemplo, como o telescópio acelerou os avanços na astronomia. A história dá a ele a certeza que seu colega está errado.

As ideias de Gordon, de fato, vão de encontro à economia ortodoxa moderna. Desde que o economista Robert Solow argumentou pela primeira vez, nos anos 50, que novas tecnologias geram crescimento, a maioria dos economistas abraçou a ideia. O progresso vem sendo instável, mas não há razão para esperar que o mundo acabará ficando sem ideias, segundo esta visão.

"Bob diz que as frutas maduras já foram colhidas e que não vamos reinventar o encanamento", diz Mokyr. Nas palestras, Gordon costuma mostrar imagens de uma descarga de banheiro e de um iPhone e perguntar: "De qual dos dois você abriria mão?"

Mokyr diz que muitos economistas antes de Gordon já proclamaram o fim do progresso, mas esses pessimistas quase sempre se mostraram errados. Esse foi um tema popular durante a Depressão nos EUA, diz, mas economistas agora admitem que os anos 30 foram um período de rápido progresso, com avanços como os motores de avião e o radar.

Hoje, diz Mokyr, a computação avançada é a nova ferramenta que abrirá o caminho para as invenções futuras.

Gordon vê uma débil economia americana pela frente. Os americanos estão envelhecendo, deixando muito poucos trabalhadores para sustentar a população de aposentados. O problema é ainda pior em outras economias ocidentais.

Esse é apenas um numa lista de problemas que inclui o declínio do emprego entre pessoas em idade de trabalhar, a estagnação da proporção de americanos com curso superior, empregos transferidos para outros países e o endividamento do governo. O maior obstáculo, diz, é o crescimento da desigualdade.

Para compensar, diz Gordon, as economias precisam de avanços tecnológicos. O problema é que os avanços revolucionários — como a eletrificação e os antibióticos — já foram feitos. A eletricidade mudou a vida das pessoas e deu origem a centenas de novas indústrias. As invenções mais recentes — incluindo a internet — não terão um efeito tão potente, diz. "O rápido progresso visto nos últimos 250 anos pode muito bem se tornar um episódio único na história da humanidade."

Os celulares, diz, são apenas um refinamento do telefone. "Veja como era uma cozinha ideal em 1955 — não muito diferente da de hoje", diz, acrescentando que os carros também ilustram como os avanços perderam fôlego nas décadas recentes.

Nos anos 50, o pai dele tinha um Chevrolet que era cinco vezes mais potente que os primeiros Ford modelo T. Hoje, mais de 50 anos depois, Gordon tem um Subaru que é comparável ao carro de seu pai em tamanho, velocidade e capacidade de carga, diz.

Gordon diz que suas ideias começaram a tomar forma em 1965, quando analisou o impressionante crescimento da produtividade que teve início perto de 1920 e atravessou a Segunda Guerra e o boom que veio a seguir. A não ser por uma alta nos anos 90, a produtividade vem subindo devagar desde então, diz.

Em 2012, ele publicou um trabalho polêmico intitulado "O crescimento econômico chegou ao fim?", prevendo que a economia dos EUA vai crescer à metade da média notável de 2% ao ano alcançada entre 1870 e 2007.

"Os americanos se acostumaram a dobrar seu padrão de vida em relação a seus pais. Não mais", disse ele a investidores alemães este ano.

Outros economistas já manifestaram preocupações com a estagnação do crescimento, mas nenhum de forma tão generalizada.

Larry Summers, ex-conselheiro econômico do presidente Barack Obama, disse, durante um evento do Fundo Monetário Internacional, no ano passado, que os EUA e outras economias avançadas estavam diante de um prolongado período de baixo crescimento. Mas, numa entrevista recente, ele disse discordar da opinião de Gordon de que as inovações se esgotaram.

Outros especialistas concordam com Mokyr.

O ex-presidente do banco central americano, Ben Bernanke, disse, num discurso de formatura no ano passado, que "tanto a capacidade da humanidade de inovar quanto os incentivos à inovação são maiores hoje do que em qualquer outra época na história".

As críticas de Mokyr e outros levaram Gordon a se concentrar mais nos problemas econômicos. Mesmo se o ritmo da inovação não se alterar, diz, os obstáculos atuais são suficientes para sustentar suas projeções.

No momento, Gordon está escrevendo "Além do arco íris: ascensão e queda do crescimento do padrão de vida americano", em tradução livre, que é parte de uma série de livros de história econômica supervisionada por Mokyr.

Grande parte do trabalho de Gordon foca na produção econômica, enquanto Mokyr está mais interessado em como novas invenções melhoram a qualidade de vida de maneiras não contempladas nas medidas convencionais. Um transplante de bacia, diz, permitiu que ele continue indo de bicicleta ao trabalho.

"Para Bob, tudo é uma questão de medir insumos e produção — principalmente a produção", diz Mokyr. Por isso, o envelhecimento da população é um problema tão sério para Gordon, porque as pessoas param de produzir.

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Gordon argumenta que muitas das inovações previstas por Mokyr — como novas tecnologias para despoluir o ar e a água — vão resolver problemas criados pelo crescimento econômico passado. Então, não deveriam ser consideradas tão revolucionárias como as que geraram produção, diz.

"Talvez o problema seja que não medimos o crescimento corretamente no passado", rebate Mokyr, "porque não levamos em conta os custos".

Os dois professores, porém, concordam num ponto. "Uma das minhas principais missões é mostrar a meus alunos como eles têm sorte de ter nascido no século XX", diz Mokyr. "Comparado com a vida 100 ou 200 anos atrás, somos incrivelmente sortudos."

(Colaborou Michael J. Casey.)