Se não bastasse a crise econômica devastadora que vivemos com mais de 13 milhões de pessoas desempregadas, o Brasil enfrenta também uma crise muito séria de saneamento básico. Metade da população brasileira não tem esgoto coletado e 35 milhões sequer sabe o que é ter água tratada nas torneiras de suas casas. Do ponto de vista da saúde e do direito do ser humano aos serviços essenciais e básicos, é cruel.

Chegamos ao absurdo de termos cidades como Ananindeua e Santarém, no Pará, com nenhum esgoto coletado. Ficamos cada vez mais expostos a novos focos de doenças que custam milhares de vidas humanas e bilhões de reais ao bolso do contribuinte.

"Se não tomarmos uma atitude e começarmos a cobrar mais eficiência por parte do governo, só teremos serviços de saneamento universalizados depois de 2050. Até lá, vamos ficar parados vendo vidas humanas escorrer pelo ralo da incompetência e dos desmandos públicos?", indaga Canindé Pegado, presidente do SINCAB".

Metade da população brasileira chega a mais um Dia Mundial da Água sem acesso ao serviço básico de esgoto.

A informação é resultado de um levantamento feito pela Folha a partir dos dados mais recentes (2015) do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades.

Tal deficit contabiliza cerca de 104,5 milhões de pessoas apartadas do tratamento de dejetos. A expansão do serviço de saneamento caminha em um ritmo mais devagar do que o planejado.

Em 2013, o Plano Nacional de Saneamento Básico, criado pelo governo federal, estabeleceu que o serviço deveria ser universalizado até 2033.

No atual ritmo das obras, porém, seriam necessárias mais duas décadas para universalizar o serviço, segundo estudo de fevereiro deste ano feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A oferta é inferior à do Chile, da Argentina, da China e da Rússia.

Um dos responsáveis por ampliar o acesso, o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) tem, por ora, 54% das construções de redes de esgoto concluídas, de acordo com o Ministério do Planejamento.

Segundo a pasta afirma, em nota, o ritmo lento se deve à complexidade das obras, cujos "procedimentos demandam tempo" por questões de licenciamento ambiental, desapropriação de áreas e aprovação de órgãos estaduais e municipais.

Para o engenheiro Edison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, o deficit, de um lado, deve-se principalmente à falta de investimentos nos anos 1980. "As cidades foram crescendo, os bairros nascendo, e não se investiu no acesso ao saneamento."

A expansão do sistema, de outro lado, esbarra no ritmo das obras federais e também na falta de recursos dos municípios. As cidades, diz ele, "precisam não só de investimentos e recursos, mas também de capacidade para gerir o sistema, com profissionais e eficiência."