Finalmente o governo federal começa a dar sinais de que a sua proposta de reforma da Previdência não agrada a população e não passará no Congresso Nacional. O povo já saiu às ruas em sinal de protesto contra essa aberração e ameaçou com o voto aqueles que votarem a favor da reforma.

Deputados e senadores sabem muito bem que a população vê com maus olhos a performance deles dentro do cenário nacional, onde a grande maioria está envolvida com escândalos de corrupção. E o pior, um atrás do outro. O Brasil virou uma máquina de produzir corrupção em massa. Nos últimos anos, centenas de pessoas - entre eles políticos e empresários - fizeram parte de alguma investigação da Polícia Federal, tendo como desfecho prisões ou tornozeleiras.

Então, existe uma mancha no meio político que se perpetuará para sempre na memória e nos registros da história brasileira. Daqui mais 500 anos - lógico, se o país não sucumbir à corrupção e fechar as portas -, professores nas salas de aula terão dificuldades em explicar para os alunos como o Brasil conseguiu sobreviver até aqueles dias com um passado impregnado de corrupção e ladrões dos cofres públicos. Cada página da história irá dar nome de cada um dos malfeitores. E, a cada pergunta dos alunos, terá como resposta, que o Congresso Nacional Brasileiro - salvo raríssimas exceções - era um verdadeiro ninho de ratos.

"A verdadeira razão deste desabafo, é para lembrar aos digníssimos parlamentares que ainda dá tempo de fazer alguma coisa em prol daqueles que os sustentam e pagam suas mordomias - aliás, só na Câmara custa mais de 1 bilhão ao ano. Essa seria uma oportunidade dos parlamentares se redimirem com seus eleitores, buscando aprovar uma reforma que realmente defendesse os interesses da classe trabalhadora brasileira. Sendo assim, pelo menos em algum capítulo da nossa história - daqui 500 anos - haveria menção de pelos menos um ato a favor do povo. Portanto senhores prestem muito atenção ao clamor da população", recomenda Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A decisão do presidente Michel Temer em restringir a reforma da Previdência aos servidores federais teve como principal motivação as pressões sofridas pelos integrantes da base aliada em seus respectivos redutos eleitorais e a efetiva ameaça de não serem reeleitos no próximo ano.

Diante desse quadro, lideranças da base do governo intensificaram, nas últimas semanas, o alerta junto ao Palácio e aos integrantes da equipe econômica dos riscos de uma derrota "acachapante" na votação da proposta no Congresso.

Nas conversas, os parlamentares ressaltaram que era muito mais confortável enfrentar em seus Estados os desgastes com os servidores federais, que em alguns casos, segundo cálculos de lideranças da base, representam apenas 5% dos servidores, do que ter as suas fotos colocadas em centenas de cartazes empunhados por médicos, professores, policiais civis, que estão sob o guarda-chuva do Estado e município.

Em conversa com o Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) na noite de terça-feira, logo após o anúncio de Temer, lideranças do governo no Congresso ressaltaram que a movimentação para alterar a reforma vinha sendo costurada desde o final de fevereiro, após o Carnaval, quando os parlamentares voltaram de suas bases "bombardeados" por vários setores da sociedade, contrários às alterações sugeridas pelo governo federal nas aposentadorias. O tema também voltou a ser colocado na reunião de líderes da Câmara e do Senado realizada na terça, no Palácio do Planalto com Temer.

"Lógico que diminui a pressão. Com essa decisão vai facilitar a votação porque se diluir, se for pegar o número de servidor federal em todos os Estados, ele é mínimo", afirmou o líder do PP, Arthur Lira (AL) que esteve presente ao lado de Temer, no momento do anúncio de terça. "A decisão do governo vai acelerar a discussão no Congresso. Aqueles que estão fazendo movimentos contra estavam presos nos sectarismos dos sindicatos, das centrais. Agora a briga deles é com os governos estaduais e municipais", emendou.

Presente no anúncio de Temer, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), adotou inicialmente o discurso oficial, mas ressaltou que a decisão poderá ajudar a "despressurizar" as discussões nos redutos eleitorais dos deputados "É uma decisão acertada, a luz do respeito aos entes federados", considerou. "Mas é natural que ao ter uma decisão como essa, você também tenha menos demandas de determinadas categorias em relação à reforma da Previdência", emendou o líder.

Responsável pela articulação nas duas Casas, o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), também divide das avaliações de Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro e ressalta que cada governador poderá fazer os ajustes na Previdência de acordo com sua realidade local.

"Você dá ao Estado a possibilidade de legislar naquilo que lhe compete que são os servidores estaduais. E cada Estado tem a sua peculiaridade. Nada melhor do que dar essa responsabilidade aos governadores e às assembleias legislativas. Isso também ajuda a diminuir a pressão aqui no Congresso", considerou.