Estamos falando de um assunto que dói e muito no bolso dos cidadãos brasileiros. Todos os anos temos que prestar contas ao leão e essa conta só vem aumentando e sacrificando cada vez mais a população. Segundo o Sindifisco Nacional, a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física está defasada em mais de 83% desde 1996. Isso só acontece porque nos últimos 10 anos a tabela não promoveu um reajuste adequado, a inflação acumulada de 283,87% foi mais que o dobro da correção promovida pelo governo federal na tabela, de109, 63%.

Se nos últimos anos a tabela tivesse sido corrigida pelos índices de inflação acumulados, a faixa de isenção para o Imposto de Renda seria até R$ 3.460,50. Não corrigir a tabela do IR pelo índice de inflação, significa fazer com que o contribuinte pague mais Imposto de Renda do que pagava no ano anterior.

"São duas décadas com correções abaixo da inflação. Sem as devidas correções, quem ganha mais paga menos e quem ganha menos paga mais. De um modo geral estamos pagando, a cada ano, mais Imposto porque as correções não recompõem as perdas de vários anos sem reajuste da tabela. Precisamos reajustar a tabela para evitarmos injustiças tributárias e colocar um pouco mais de dinheiro no bolso do trabalhador", reclama Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

O governo federal não deve corrigir a tabela do Imposto de Renda pelo segundo ano consecutivo, o que levará os contribuintes a pagar ainda mais imposto na declaração de 2018. Na quarta-feira passada (29), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, declarou que "não há decisão tomada sobre o tema" e que qualquer medida que leve ao reajuste da tabela "incidirá sobre as receitas" do governo.

A tabela do IR determina quanto se paga de imposto em cada faixa salarial. Se a tabela fosse corrigida, menos gente pagaria imposto. E quem fosse obrigado a declarar pagaria menos. Sem a correção, quem ganha R$ 4.000 mensalmente paga 545% a mais de imposto todo mês, de acordo com um estudo.

 

 

 

Veja abaixo exemplos segundo estudo do Sindifisco (sindicato dos auditores da Receita). Quem acaba mais prejudicado é quem ganha menos.

Isentos (não pagam nenhum IR)

  • Tabela hoje: é isento quem ganha até R$ 1.903,98
  • Tabela corrigida: seria isento quem ganha até R$ 3.454,65

Salário de R$ 4.000

  • Tabela hoje: paga R$ 263,87 de IR por mês
  • Tabela corrigida: pagaria R$ 40,90 (diferença de R$ 222,97, ou 545,14%)

Salário de R$ 10 mil

  • Tabela hoje: paga R$ 1.880,64 de IR por mês
  • Tabela corrigida: pagaria R$ 1.161,72 (diferença de R$ 718,92, ou 61,88%)

 

Rombo do governo deve impedir queda do imposto

O Orçamento de 2017 trazia uma previsão de reajuste de 5% na tabela do IR, que teria efeito sobre a declaração de 2018. Mas, diante do rombo nas contas do governo, e da sinalização dada ontem por Meirelles, especialistas acham praticamente impossível que esse aumento saia do papel.

Ao não atualizar a tabela do IR, o governo consegue aumentar sua arrecadação porque os salários tendem a aumentar, acompanhando o índice da inflação, enquanto a base de cálculo do imposto permanece a mesma. Mais gente ganhando mais paga mais imposto e aumenta a arrecadação do governo.

Veja um exemplo prático: se você recebeu até R$ 28.123,91 de salário em 2015, não precisou apresentar declarar IR em 2016.

No IR 2017, o limite de isenção subiu 1,5%, para R$ 28.559,70. Se o seu salário foi corrigido ao menos pela inflação nesse período, você acumulou ganhos de R$ 29.895,71 em 2016. Portanto, agora você terá que fazer a declaração do IR 2017 e, provavelmente, recolher imposto.

"O governo achou um jeito de arrecadar mais do contribuinte, sem precisar mexer em nada", declara o coordenador de impostos da Sage IOB, Valdir Amorim.

 

Para sindicato, governo pune as classes sociais mais baixas

O Sindifisco nacional diz que o governo está punindo principalmente as classes sociais mais baixas ao adotar essa postura. "Neste momento de crise, em que as pessoas estão endividadas, essa diferença de imposto poderia ser canalizada para necessidades básicas", afirma o presidente do sindicato, Cláudio Damasceno.

O estudo elaborado pelo Sindifisco nacional mostra que, devidos aos sucessivos ajustes abaixo da inflação, a tabela do IR já acumula uma defasagem de 83% desde 1996 até o ano passado.

"A retenção do Imposto de Renda acontece na fonte, independente da vontade do contribuinte. Portanto, ele não tem como se defender desse desconto. Muita gente está pagando imposto hoje quando, na verdade, não deveria ter que pagar", diz Damasceno.

 

Mais pessoas terão de declarar IR em 2017 e 2018

A última vez que a tabela do IR sofreu correção foi em 2015, quando a então presidente Dilma Rousseff estabeleceu reajuste, em média, de 5,6% nas faixas salariais de cálculo do IR, índice bem inferior à inflação naquele ano, que superou os 10%. Em 2016 não houve reajuste, apesar de a inflação ter avançado pouco mais de 6%.

"Ou seja, mais gente vai passar a pagar imposto em 2017. E quem já pagava, vai pagar ainda mais", explica Amorim, da Sage IOB. A Receita Federal estimou que o número de pessoas que terão que apresentar declaração de Imposto de Renda em 2017 crescerá em 340 mil, alcançando 28,3 milhões de contribuintes. Diante da sinalização dada ontem por Meirelles, esse número continuará crescendo em 2018.

 

Nada obriga o governo a reajustar anualmente a tabela do IR

Damasceno afirma que, do ponto de vista legal, não há nada que obrigue o governo a reajustar anualmente a tabela do IR ou mesmo de vincular o reajuste ao índice oficial de inflação (IPCA). "O reajuste tem que ser feito via projeto de Lei. Mas não há uma obrigação."

O presidente do Sindifisco Nacional lembra que o governo de Michel Temer não é o primeiro a simplesmente protelar o reajuste da tabela do IR. "Isso já aconteceu nos governos de FHC, entre 1996 e 2001, e Lula, em 2003 e 2004. No segundo mandato de Lula, em 2007, ele baixou Medida Provisória estabelecendo um reajuste de 4,5%, equivalente ao centro da meta de inflação do Banco Central. A medida valeu até 2014, já no governo Dilma."

 

Go to top
JSN Boot template designed by JoomlaShine.com