Será uma missão difícil para o governo conseguir assegurar dos parlamentares os votos necessários para as reformas da Previdência e Trabalhista. Convencer deputados e senadores a votarem a favor das reformas requer muito mais que simplesmente oferecer cargos e ministérios ou tentar ameaçar aqueles que votarem contra os desejos do Planalto. O governo sentiu na pele a atitude do PSB ao fechar questão contra as duas reformas e colocar a disposição o ministério de Minas e Energia. PTB e PPS já estudam fazer o mesmo e abandonar o governo.

O Palácio do Planalto tem agora uma corrida contra o tempo para convencer a base aliada a não mudar de posição e garantir assim a fidelidade na votação das reformas. O grande medo do governo é que o vírus da deserção contamine os outros partidos aliados. Contar com 88% de apoio do Congresso, já não faz mais parte do discurso governamental.

"No fundo o que vai definir a votação das duas reformas será a necessidade de reeleição de cada parlamentar. No ano que vem teremos eleições para renovação do Congresso Nacional. E, partindo desse princípio, nenhum dos senhores deputados e senadores irão arriscar o pescoço votando reformas ditas impopulares e que só servem para retirar direitos dos trabalhadores. Nesse momento o voto popular fala mais alto que as promessas e ameaças do governo. Cuidado senhores, o povo não vai suportar traição", avisa Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A decisão do PSB de “fechar questão” contra a reforma da previdência e a reforma trabalhista soa como um primeiro passo para o desembarque do governo. A sigla, que nasceu esquerdista, foi um importante bastião dos governos petistas, até o rompimento, em 2013, já na gestão Dilma. Ao dizer um não oficial, com direito a punição para quem desobedecer o partido, o PSB atinge em cheio aquilo que é mais caro ao governo.

O presidente Michel Temer intitula seu governo de “reformista” e tem a reforma da Previdência como principal estaca da ponte que tenta erguer para superar a crise econômica. Os avisos de Temer, de que quem votar contra as reformas estará votando contra o governo, não intimidaram o PSB. Agora, o presidente terá de decidir se retalia com a retirada de cargos e verbas, como sinalizou, ou se tenta salvar parte dos 35 votos do partido na Câmara. O primeiro escalão do Executivo conta com um ministro do PSB: Fernando Coelho Filho, de Minas e Energia. Seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho, já disse que o cargo do filho está à disposição, e o próprio começou a demonstrar interesse em mudar de legenda.

O timing do anúncio do PSB não poderia ser pior para o governo: na véspera do início das votações. É a partir desta terça-feira que o jogo começa, efetivamente, a ser jogado, com a reforma trabalhista sendo votada na comissão especial e em seguida no plenário. A da Previdência parte para uma fase decisiva de debates, já em cima do relatório final negociado com o Palácio do Planalto. A rebeldia do aliado pode se disseminar entre outros partidos da base, num momento em que encampar uma pauta polêmica e impopular já não soava tão interessante assim. Especialmente quando a Lava Jato chamusca fortemente a classe política de forma generalizada.

O Planalto passou a se preocupar, de pronto, com a manutenção da fidelidade do PSD e do PRB. PTB e PPS também merecem atenção. Na votação pela urgência da reforma trabalhista, na semana passada, o governo perdeu. Passou o pito nos aliados e menos de 24h depois, numa nova votação (que está sendo questionada pela oposição), conseguiu aprovar. O episódio serviu para mostrar que a fidelidade maciça, de um apoio propalado pelo Planalto de 88% do Congresso, está em xeque.

Amigos de Temer dizem que seu governo é “semiparlamentarista”, já que o chefe do Executivo já presidiu a Câmara e conhece como poucos os meandros do Parlamento. Será preciso mais do que discurso para juntar 3/5 da Câmara em torno da nova Previdência.