O recado foi dado! O povo saiu às ruas e compartilhou seu descontentamento com as reformas abusivas promovidas e bancadas pelo governo federal. Cabe aos congressistas escolher o lado em que eles vão estar nos próximos dias. É preciso ouvir as vozes das ruas para entender que não se trata apenas de um pedido, é muito mais que isso. Se escolherem ficar do lado do governo, o preço sairá muito caro.

O povo já sinalizou que daqui pra frente à questão não será tão pacifica quanto foi durante estes anos todos em que se fez necessário fazer greve. Agora está em jogo a sobrevivência de conquistas e direitos que ferem profundamente o destino de milhões de brasileiros.

"Enganam-se aqueles parlamentares que se acham amparados pelo Planalto. Na hora que a corda começar a ruir vai ser um salve-se quem puder. O Congresso Nacional está por um fio, e não escapará dos efeitos da Lava Jato. O presidente da república tenta se manter de pé sustentado pelos interesses de grupos privados. O presidente Michel Temer não está amparado por um projeto político, pois o mesmo não existe. Portanto, sobra para os digníssimos parlamentares tentarem, de alguma forma, salvar suas candidaturas para 2018. Corram senhores, pois anda há tempo", avisa Canindé Pegado, presidente do SINACAB.

Na sexta-feira 28 o Brasil parou. Foi a maior greve geral dos últimos 30 anos, segundo muitos relatos. Maior que aquela de 1989 e comparável à grande greve de 12 de dezembro de 1986, após o fracasso do Plano Cruzado 2, no governo Sarney.

A paralisação dos transportes foi decisiva, como o é em qualquer greve geral. Mas importantes categorias de trabalhadores também decidiram cruzar os braços: bancários, professores (inclusive das escolas particulares), metalúrgicos, químicos, petroleiros, dentre outros. As ruas das grandes cidades ficaram vazias.

Além disso, os movimentos populares organizaram bloqueios em dezenas de rodovias e avenidas centrais em todo o País. Acessos a aeroportos e aos centros comerciais ficaram travados. Aos que reclamaram, taxando os bloqueios de "abusivos", talvez esperassem que a greve fosse feita nos sambódromos. Greve geral de fato é para parar e os desafio a encontrar uma na história que não tenha recorrido à tática dos piquetes como forma de mobilização.

O dia foi encerrado com importantes protestos. Em São Paulo, mais de 75 mil manifestantes marcharam do Largo da Batata até a casa de Michel Temer. Dezenas de milhares se concentraram no centro do Rio de Janeiro. Nos dois casos, houve repressão violenta por parte da polícia. Destaque-se, em relação à violência policial, o caso do estudante Mateus Ferreira da Silva, que está internado em estado grave após ter sido atingido por policiais com uma paulada na cabeça durante a manifestação em Goiânia.

A greve teve também seus presos políticos. Em meio a dezenas de detidos em todo o País e posteriormente liberados, três militantes do MTST permanecem presos em São Paulo sob as incríveis acusações de "explosão" e "incêndio criminoso". Juraci Alves dos Santos, Luciano Antonio Firmino e Ricardo Rodrigues dos Santos estão neste momento em presídio, criminalizados por participarem de bloqueios na greve geral.

A repressão policial não foi capaz, porém, de ofuscar a dimensão da greve. Desnorteado e sem conexão com a sociedade, o governo Temer quis sustentar o "fracasso" do movimento que parou o País. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, comparsa do "grande chefe" da Operação Carne Fraca, falou que as manifestações foram "pífias". Convenhamos, pífio é ter um tipo como Serraglio no Ministério da Justiça. De toda forma, nos bastidores o próprio governo assustou-se com o tamanho da paralisação, como relatou o jornalista Kennedy Alencar.

 

E agora?

O recado foi contundente, independente das versões ou apelos à "pós-verdade". A questão agora é quais serão os próximos passos do movimento social. E isso dependerá, em grande medida, de como o Congresso Nacional entenderá a forte mensagem da greve geral do dia 28.

A primeira hipótese é o Parlamento ouvir o clamor das ruas e recuar na aprovação das reformas. As mudanças na previdência enfrentam rejeição de mais de 90% da sociedade, segundo a última pesquisa CUT/Vox Populi. A reforma trabalhista, que ainda pode ser barrada no Senado, também é amplamente rechaçada. E diferentemente de Temer, os deputados e senadores terão de enfrentar as urnas no próximo ano. Ou seja, têm mais a perder. Este entendimento começa a se expressar em divisões na base do governo, com as prováveis defecções do PSB e Solidariedade e a rebelião na bancada do PMDB no Senado.

Se isso ocorrer, as mobilizações terão sido vitoriosas e o governo Temer poderá ficar com seus dias contados. Sem as reformas, Temer torna-se dispensável aos setores econômicos que o sustentam. O que mantém um presidente com 5% de aprovação no cargo, ainda mais um não eleito, é apenas a confiança da banca de que poderá garantir seus interesses.

A hipótese de recuo do Congresso não parece, no entanto, a mais provável. Apesar do sucesso da greve e da forte rejeição às reformas, o comando do Parlamento parece apostar na tática da "fuga pra frente", ou seja, sustentar-se no apoio da elite econômica para preservar suas posições diante das graves denúncias de corrupção. Trata-se de um Congresso sob suspeita, com os chefes das duas Casas investigados por venda de Medidas Provisórias para a Odebrecht.

Por isso, a linha de manter as reformas para salvar o pescoço pode prevalecer. A aposta, evidentemente, é de alto risco. Significaria voltar as costas para 90% da sociedade brasileira, fechar os ouvidos e pisar no acelerador.

Se assim o fizerem e colocarem as reformas na pauta de votação, o resultado será o aprofundamento do conflito social no País. Um Congresso desmoralizado insistindo em aprovar medidas amplamente rechaçadas pelo povo pode ser o estopim para convulsionar de vez as ruas e a conjuntura política.

Neste caso, não restará outra alternativa aos movimentos sociais senão aumentar a contundência das mobilizações. Novas greves gerais poderão ser convocadas. E principalmente o deslocamento do eixo de mobilizações para Brasília, com forte potencial de radicalização. E não será a radicalização de pequenos grupos, alvo fácil para a estigmatização midiática. É possível que, pela primeira vez em décadas, vejamos o fenômeno de radicalização de massa no Brasil.

Os próximos dias serão decisivos para definir qual será o caminho na encruzilhada. E este caminho dará uma indicação do que ocorrerá no país nos próximos anos.