Nada mudou e pelo visto nada mudará até 2019 na economia brasileira. Estamos com um mercado interno travado esperando o desenrolar da mais grave crise política que se tem notícia em nossa história. O presidente da república diz que não renuncia. O país inteiro sobrevive aos solavancos em meio a novas descobertas de casos de corrupção no dia a dia. A cada anoitecer e amanhecer surgem novas revelações e mais envolvidos.

O governo finge seguir dentro da normalidade e a equipe econômica se desdobra para manter a economia sob controle. Até o final de 2018, as reformas trabalhistas e previdenciárias ficarão congeladas a espera de um novo governo e o povo sem nenhuma perspectiva de um futuro melhor. Culpa de quem?

Culpa de um governo incompetente e um Congresso Nacional, cujo nível de aberração e teatralidade é um dos espetáculos mais vistos todas as noites nos televisores de milhões de brasileiros. É um elenco que tem de tudo. São 594 integrantes que inclui suspeitos de homicídio e trafico de drogas, ex-jogadores de futebol, um campeão de judô, um astro sertanejo, um humorista e palhaço, e muitos outros picaretas a serviço de seus interesses e dos comparsas.

"Enquanto o país sofre com sua pior crise econômica e política, mais da metade dos membros do Congresso enfrenta processos na Justiça, de casos envolvendo propinas, vendas de MPs, auditoria de contratos públicos até crimes sérios como seqüestro ou homicídio. Entre as figuras sob investigação estão o presidente do Senado, Eunício Oliveira e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Enfim, a bestialidade tomou conta do Congresso Nacional", diz Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A economia brasileira vai ficar estagnada até 2019, quando um novo presidente da República deve assumir o cargo e terá condições e força política para implementar mudanças capazes de fazer o Brasil crescer de forma mais robusta novamente.

A opinião é do professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Nelson Marconi, para quem o presidente Michel Temer não conseguirá se manter em seu cargo até o final do mandato, em 2018. E mesmo quem o substituir, acrescentou, não conseguirá andar com as reformas e colocar o país em rota de crescimento.

"A economia vai ficar em banho-maria", afirmou Marconi à Reuters. "A economia brasileira deve se comportar mais ou menos como o último ano do governo (José) Sarney (presidente entre 1985 e 1990), só que sem a hiperinflação, quando todo mundo esperava o resultado da eleição de 1989", acrescentou.

Marconi, que também é coordenador do Fórum de Economia da FGV, que reúne anualmente importantes economistas e integrantes da equipe econômica, acredita que, se a troca de Temer se confirmar, a equipe econômica deve ser mantida, mas não terá força política para aprovar a agenda de reformas diante da proximidade do pleito no próximo ano.

A principal delas, a da Previdência, é considerada fundamental para colocar as contas públicas em ordem e tem grande apoio do mercado financeiro.

O governo sempre vendeu a reforma da Previdência como peça-chave para a retomada do crescimento, mas diante do impasse político, avalia o Marconi, vai ser obrigado a alterar o discurso de que, mesmo sem ela, o Brasil pode crescer.

"Nesses dias, Meirelles já disse que atrasar a reforma da Previdência não seria nada de outro mundo. Vai ser difícil, mas vão ter de mudar o discurso", disse ele, referindo-se ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Temer corre o risco de perder seu mandato depois de delações de executivos do grupo J&F, levando o Supremo Tribunal Federal (STF) a abrir inquérito contra o presidente por crimes, entre outros, de corrupção passiva.

A crise política, afirmou Marconi, só piorou o cenário econômico brasileiro, que já vinha mostrando sinais de fraqueza.

O crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, diz o economista, será puxado somente pelo desempenho do agronegócio e pela mudança metodológica na pesquisas de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A projeção de estagnação econômica feita por Marconi é mais pessimista do que a do mercado. No relatório Focus, do Banco Central, que colhe a previsão de uma centena de analistas todas as semanas, a expectativa é que a economia cresça cerca de 0,5% este ano e 2,5% em 2018.

 

Sem válvulas

Para Marconi, o Brasil tem poucas válvulas que possam permitir a volta do crescimento robusto. Na avaliação dele, a recuperação teria de vir por meio da retomada das exportações de produtos manufaturados, o que ajudaria na recuperação do setor industrial e dos investimentos, criando efeito positivo em toda a economia. Hoje, ele diz, o canal das exportações só tem funcionado para o agronegócio.

As exportações de manufaturados, avalia o economista, foram prejudicadas por causa da desvalorização do dólar desde que Temer assumiu a Presidência. No período, o dólar deixou o patamar de R$ 4 para a faixa de R$ 3,25.

"O que ajudaria a puxar o crescimento é a exportação de produtos industrializados, mas que foi prejudicada pela valorização do real", diz.

Para Marconi, o governo optou por permitir a desvalorização do dólar para ajudar no combate a inflação. O ideal seria a equipe econômica levar a taxa de câmbio para um patamar entre 3,80 reais e 3,90 reais.