O que quer que aconteça neste momento a ordem presidencial para os aliados é deixar as reformas trabalhistas e previdenciárias de lado e se concentrar nas denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de quem depende a sobrevivência de Michel Temer no cargo. O presidente anda nervoso, tem dormido pouco e passado horas em reuniões com ministros do governo e parlamentares aliados na busca de encontrar soluções para a grave crise que se instalou em seu governo. Se é que existe solução!

Se já não bastassem as acusações que pesam sobre sua pessoa, essa semana Temer viu ser preso um dos seus maiores amigos e ex-ministro do Turismo do seu governo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), acusado de receber propina na construção da Arena das Dunas, em Natal, em mais uma etapa da Operação Lava Jato.

Surgiu também na imprensa, que o presidente da república utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete. Foi revelado também que a família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte e que o vice-presidente não sabia a quem pertencia à aeronave e não fez pagamento pelo serviço.

Para fechar a semana, o PSDB partido aliado ao presidente Michel temer, promete abandoná-lo com o discurso de que saí do governo, mas vai dar andamento nas reformas, até porque elas não são do governo e sim da sociedade.

"A coisa ta ficando cada vez mais feia. Toda noite, antes de dormir o presidente tem tentado 'contar carneirinho' para ver se consegue dormir mais rápido para esquecer as encrencas do mundo real, porém os pesadelos reais tem lhes tirado o sono. A cabeça presidencial parece um verdadeiro parque de diversões. São aliados abandonando o barco, bruxos e bruxas da oposição querendo rifar sua alma, assessor pego com a boca na botija e preso, malas e cuecas de dinheiro, jatinho emprestado, amigo natalense do coração preso, procurador da república na sua cola e um juiz federal que não vê à hora de lhe dar boas- vindas a Curitiba, onde possivelmente reencontrará alguns amigos. Desse jeito alguém consegue dormir? O problema é pura e simplesmente de consciência pesada, ao qual não existe remédio", afirma Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Na tentativa de garantir sua sobrevivência no cargo, o presidente Michel Temer decidiu adiar a votação das reformas previdenciária e trabalhista e mobilizar a base aliada para evitar seu afastamento temporário do cargo.

A ordem é deixar neste momento as reformas em uma espécie de banho-maria e aguardar a apresentação pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de denúncia contra o presidente.

Na avaliação do Palácio do Planalto, um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) cria o risco de prolongar a instabilidade política e, assim, ameaçar a aprovação de pautas governistas que já contam com resistência na própria base aliada, como as reformas.

A intenção é deixar a votação das mudanças na área previdenciária para agosto no plenário da Câmara dos Deputados e a reforma trabalhista para o fim de junho ou o início de julho no Senado. A expectativa inicial era colocar ambas em votação no início deste mês.

A avaliação de assessores presidenciais é que as duas "mais atrapalhariam do que ajudariam" neste momento e que o esforço prioritário deve ser o de conseguir uma votação expressiva para derrubar a denúncia, sinalizando a retomada da base aliada.

Para não se tornar réu e ser afastado temporariamente do cargo, Temer precisa do apoio de 172 deputados federais.

"A [reforma da] Previdência subiu no telhado momentaneamente. Deve ficar para agosto. Até que a poeira baixe, não dá para computar voto", disse Beto Mansur (PRB-SP), um dos principais aliados do presidente na Câmara.

O parlamentar, que retomaria a contagem de votos a favor da reforma previdenciária, não levou o plano adiante nesta semana. O número de votos favoráveis computados antes da crise política variava de acordo com o interlocutor —entre 225 e 300—, mas estava sempre abaixo dos 308, mínimo necessário para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) na Câmara.

O presidente defende que a matéria só seja levada a plenário com uma margem de segurança de aprovação, o que, para o governo peemedebista, significa conquistar entre 320 e 330 votos.

 

PRESSÃO DA OPOSIÇÃO

Nesta quinta-feira (8), a leitura do relatório da reforma trabalhista na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado foi adiada para a próxima semana após pressão de senadores da oposição.

Os parlamentares oposicionistas argumentaram que a proposta teria de ter sido incluída na pauta da comissão dois dias antes, o que levou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), a adiá-la para a próxima terça-feira (13).

Na terça-feira (6), a proposta foi aprovada pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, por 14 votos a favor e 11 contra.

"Há um posicionamento dos partidos de oposição solicitando que não fosse lido. Construímos um acordo de calendário. Lemos relatório na próxima terça [13], votamos na terça seguinte [20] e, no dia seguinte [21], lemos na CCJ. Na quarta seguinte [28], votamos na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] pela manhã", afirmou Jucá.

A reforma da legislação trabalhista em tramitação no Congresso altera diversos pontos da CLT, como férias, demissão e tipos de contrato de trabalho. Alguns pontos, no entanto, devem ser vetados por Temer, segundo acordo fechado com senadores.

Essa é uma forma de garantir mudanças no texto sem que ele seja alterado no Senado, o que levaria a uma nova votação na Câmara.