As coisas não são bem como gostaria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Dizer que o desemprego parou de crescer é retórica preparada pelo governo federal para difundir o discurso de que estamos saindo da recessão e avalizar as reformas trabalhista e previdenciária. A taxa de desemprego no Brasil está em torno de 14 milhões e deverá atingir a marca de 15 milhões ainda este ano, e só deve voltar a cair no primeiro trimestre de 2018.

A recuperação plena do emprego no país, passa pela retomada do otimismo e confiança na economia. O Brasil vive uma séria crise política que acabou afastando os investimentos e quebrando o mercado interno. Milhares de empresas fecharam suas portas e demitiram seus empregados. As famílias viram sua renda despencar, perdendo o poder de compra. Os que sobreviveram com seus empregos viram seus salários minguarem em negociações coletivas, que sequer cobria a inflação dos últimos anos.

"No Brasil existe hoje uma falta de credibilidade nas instituições, provocada pelos inúmeros escândalos de corrupção que tomou conta do país. Os três poderes estão falidos. A cada dia estoura novas denúncias e um político é preso pela polícia federal acusado de estar envolvido em esquemas fraudulentos. Sendo assim os investimentos ficam escassos, a renda cai e as pessoas deixam de consumir", assinala Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, publicou hoje no Twitter que a taxa de desemprego parou de crescer em abril e deve começar a cair em agosto.

Os números da PNAD mostram que o desemprego caiu ligeiramente em abril, mas com alta no balanço do trimestre. Já o Caged de abril mostrou a criação de 60 mil vagas.

Para Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, estes números positivos são mais um ajuste sazonal do que uma reviravolta do emprego.

A taxa de desemprego está em 13,6%, mais de 7 pontos percentuais acima da taxa de 6,2% observada em dezembro de 2013.

Segundo Donato, a taxa pode chegar a 14,8% e só deve começar a cair no primeiro trimestre de 2018.

Cerca de 14 milhões de brasileiros estão desempregados, com 2,9 milhões na busca há mais de dois anos.

O PIB interrompeu uma sequência de dois anos de queda com uma alta de 1% no primeiro trimestre, mas é cedo para falar no fim da recessão.

As delações da JBS geraram instabilidade no governo do presidente Michel Temer e deslocaram em alguns meses o calendário de reformas e as perspectivas de retomada.

 

Reação em cadeia

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressalta que a dinâmica de recuperação começa com a retomada do otimismo.

O crescimento consistente da produção eleva a confiança do empresário para voltar a investir no seu negócio, realizando novas contratações à medida que a capacidade ociosa do negócio vai sendo utilizada.

Essa utilização da capacidade ociosa é o que explica a demora do mercado de trabalho em sair da crise.

“No Brasil, contratar e demitir é muito caro, existem custos com treinamentos, garantias salariais e direitos trabalhistas. Desse modo, o empresário só volta a admitir novos funcionários diante de um cenário estável da economia”

Fernando Barbosa, pesquisador em economia aplicada do Ibre FGV, lembra que a economia brasileira caminhava para consolidar uma recuperação, mas viu esse processo ser interrompido com o início da crise política.

“As complicações para aprovar as reformas e a instabilidade do governo prejudicam a confiança e alteram o ritmo de crescimento do país”.

Para ele, dependendo da gravidade e duração da crise política, a recuperação desenhada desde o começo do ano pode ser completamente anulada.

“No mínimo, vamos observar uma redução no ritmo de saída da crise, o que impacta nos prazos para a queda no desemprego”. População a procura de emprego.

Outro dado que ajuda a compreender o desemprego persistente é o da População Economicamente Ativa (PEA).

Durante as crises, é comum que uma parcela da população que estava inativa retorne ao mercado de trabalho para ajudar a completar o orçamento das famílias.

No processo, esse mesmo grupo se soma aos milhões de trabalhadores em busca de emprego, ajudando a ampliar a taxa de desemprego.

Para Cosmo Donato, o aumento da PEA no Brasil deve seguir uma trajetória menos acentuada até o final do ano.

“Existe um limite no número de pessoas que retornam ao mercado de trabalho porque muitas delas, ao se depararam com poucas ofertas de emprego, retornam para a inatividade”.

Dos 14 milhões de desempregados, 1,8 milhão buscavam uma vaga havia menos de um mês, também segundo a PNAD.