Michel Temer está prestes a desabar e perder o reinado. No que depender dos tucanos que andam fazendo articulação para derrubar o presidente, a queda está prevista e próxima. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, finge que não quer ser o carrasco, mas emite sinais para o mercado financeiro de que manterá a equipe econômica que aí está. No que depender dele e seus comparsas, o cerco sob o presidente está se fechando e não haverá saída para o arsenal de denúncias que ainda virão.

"Na verdade é um jogo das comadres onde as amizades e a lealdade são medidas até quando as fraquezas não aparecem. Qualquer deslize nesse jogo significa no mundo político a derrocada de um projeto de poder. Assim fez Temer quando surgiu as primeiras oportunidades e fraquezas no governo de Dilma Rousseff. Ele simplesmente se juntou a oposição e conspirou pela derrubada da presidente da república. Parece que agora chegou a sua vez e tudo indica que não será poupado", diz Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

As articulações para que Rodrigo Maia (DEM-RJ) assuma a presidência seguem ganhando forças no mundo político, inclusive na base governista, conforme destacam os jornais desta sexta-feira.

Uma das movimentações públicas foi feita ontem pelo presidente interino do PSDB Tasso Jereissati (CE), que afirmou que Maia seria alguém que teria condições de trazer estabilidade ao País. Da Argentina, o parlamentar respondeu que "já está ajudando muito" como presidente da Câmara.

Mas, segundo oposicionistas afirmaram a coluna Painel, da Folha de S. Paulo nos bastidores, Maia teria dito que “não quer fazer com Temer o que ele fez com Dilma”, embora avalie que “a situação do governo é insustentável”. Segundo esses parlamentares ouvidos pelo jornal, o presidente da Câmara disse ter dúvidas se o peemedebista conseguirá sobreviver à votação da primeira denúncia e teria indicado que a base sabe que “tudo o que tem com Temer manterá comigo”. Já Maia, procurado pelo jornal, negou o relato: "não é verdade. Não falei com a oposição esta semana. Só estive em uma reunião, com 40 deputados, a maioria da base, e o assunto era reforma política.”

A mesma coluna informa que, em linha com Jereissati, o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) afirmou a investidores que, se depender do processo na Câmara, “dentro de 15 dias o país terá um novo presidente”. A instabilidade registrou uma escalada com a prisão de Geddel Vieira Lima, o avanço da delação de Eduardo Cunha e a escolha do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Ele também chegou a dizer que “o governo caiu”. Contudo, se Temer continuar, as reformas não passarão.

O senador ainda enfatizou que Maia já teria dado sinais de que não mexerá na equipe econômica se assumir o governo. “Maia deverá apresentar mais estabilidade", afirmou.

Neste sentido, o Valor Econômico informa que Maia passou a conversar mais com o mercado financeiro desde o agravamento da crise, num movimento visto por analistas, economistas e agentes com quem se reuniu como uma tentativa de mostrar que, caso Temer seja afastado, estaria preparado para assumir a função, com a manutenção da agenda de reformas e da equipe econômica.

A intensa agenda de encontros, a maioria sem registro na agenda, é vista como uma tentativa de mostrar o "plano de governo" para a eventualidade da denúncia da PGR ser aprovada pelos deputados - chance esta que aumentou nos últimos dias. Um dos pontos mais recorrentes nos encontros são elogios à equipe econômica e a sinalização de que manteria Henrique Meirelles no ministério da Fazenda.

 

Dúvidas seguem no ar

Contudo, enquanto Maia e Tasso já vislumbram o pós-Temer, a base do atual presidente segue lutando para derrubar a denúncia de Rodrigo Janot, em meio a mudanças nos integrantes da CCJ para dar espaço a defensores de Temer. Além disso, o PSDB segue rachado sobre a decisão de seguir ou não no governo.

Outra questão é de que ainda há dúvidas no ar sobre a capacidade de Maia seguir com as reformas econômicas. Segundo afirmou o diretor de Relações Governamentais da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler, ao InfoMoney, a possibilidade de Maia substituir Temer ainda gera muitas incertezas (veja mais clicando aqui). Na avaliação dele, o deputado democrata ainda seria um presidente fraco perante um Congresso forte e também não seria capaz de garantir as reformas em discussão no Congresso.

Além disso, sem o apoio do PMDB, será difícil para qualquer candidato manter a governabilidade e aprovar reformas. Assim, se as chances de uma reforma da previdência serem aprovadas pela administração atual são muito baixas, com Maia como presidente a reforma não prosperaria. Ainda mais, essa é uma corrida contra o tempo: quanto mais perto de 2018, maiores as chances da reforma da previdência ser postergada para 2019.

Griebeler ainda faz uma ponderação: Maia também está sendo investigado por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, enquanto Temer já começou a se articular para barrar sua substituição. Assim, o presidente está nas cordas, mas ainda mostra poder de fogo.