Seria um absurdo uma cidade como São Paulo ter que amargar novamente uma crise de água como tivemos em 2014 e 2015. A falta de planejamento muitas vezes nos leva a uma situação de risco, como já sofremos recentemente na pior crise hídrica que o estado já enfrentou. Vazamentos e ligações clandestinas são problemas que já deveriam estar resolvidos, pois geram perdas para a Sabesp e afetam o faturamento e a capacidade de investimentos da empresa. Sem falar que a população sofre.

Isso tudo nos leva ao temor de novas crises hídricas, se nada for feito com uma determinada urgência, corremos o risco de enfrentar novos problemas de abastecimento de água. Precisamos de mais investimentos para modernizar a rede de distribuição. Segundo dados da Sabesp, 51% da rede de abastecimento na Grande São Paulo em 2014 tinha mais de 30 anos de uso, o que mostra que o sistema não foi renovado quando deveria. Daí temos um risco iminente de falta de água no futuro próximo.

"São Paulo não pode parar por questões de desabastecimento de água. Isso geraria o caos, pois além do abastecimento da população em suas casas, temos que considerar o peso do comércio, serviços e indústria, que necessitam de água para se abastecer e fabricar produtos. Se não tomarmos as providências necessárias urgentemente, poderemos acabar secando as torneiras e aumentando o número de desempregados no mercado de trabalho. Pois sem água não há desenvolvimento, produção e nem empregos", acentua Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

As perdas de água em São Paulo por vazamentos na rede de distribuição e por ligações clandestinas chegaram a 31,4% do total de água tratada pela Sabesp em 2016, depois de dois anos de queda. Isso significa que, embora o consumidor paulista venha se esforçando para reduzir o gasto de água e, assim, evitar uma nova crise hídrica como a que atingiu o Estado em 2014 e 2015, o próprio sistema continua vulnerável, afetando o faturamento e, consequentemente, o poder de investimento da concessionária para melhorar e ampliar o serviço. O aumento das perdas no ano passado indica que o problema não está sendo tratado com a necessária urgência, e provavelmente São Paulo terá de enfrentar novas crises hídricas mesmo tendo água de sobra.

Em 2015, as perdas verificadas pela Sabesp foram da ordem de 28,5%, o mais baixo patamar já registrado pela empresa. A diminuição parecia ser uma tendência, já que o desperdício de água havia caído de 31,2% em 2013 – índice dentro da média histórica – para 29,8% em 2014, primeiro ano da mais recente crise de abastecimento. A explicação para o recuo, segundo especialistas, foi justamente a redução da pressão na rede para distribuir a água, como resultado da necessidade de economizar. A pressão menor forçou menos as tubulações mais antigas, resultando em menos vazamentos.

Com o fim da crise hídrica, anunciado pelo governo do Estado em março de 2016, verificou-se, segundo a Sabesp, um “aumento da disponibilidade de água nas redes”. Desse modo, foi possível proceder à “diminuição do período de gestão de pressão” para “diminuir o desconforto da população”. O problema, conforme a própria Sabesp admite, é que houve “uma elevação proporcional das perdas de água” em razão do aumento da pressão.

Com isso, a Sabesp tenta demonstrar que o aumento das perdas já era esperado depois da normalização do abastecimento. Mas os números indicam que o prejuízo de 31,4% verificado em 2016 é ainda maior do que o observado em 2013 (31,2%) e 2012 (31,1%), anos em que não havia crise hídrica, e ficou muito acima da meta de 28,4% estipulada pela própria Sabesp para o ano.

Felizmente para São Paulo, o regime de chuvas no ano passado aumentou de forma expressiva os estoques de água, reduzindo o risco de uma nova crise hídrica – uma possibilidade real diante das perdas do sistema. Em 2016, o índice de armazenamento do Sistema Cantareira, por exemplo, subiu de 14,7% para 58,8%, sem contar as cotas do chamado “volume morto” dos reservatórios. E a tendência permanece neste ano, pois apenas em janeiro o volume de chuvas no Cantareira foi 40% maior do que a média para o mês.

Além disso, a população continua a economizar água. Seja em razão das campanhas de conscientização e do receio dos paulistas de ficarem sem água, seja porque a tarifa de água ficou mais alta, o consumo está hoje 13% menor do que antes da crise hídrica de 2014 e 2015.

Portanto, parece razoável presumir que o aumento das perdas do sistema, mesmo diante do menor consumo, talvez seja resultado de investimentos insuficientes. Embora a Sabesp tenha gastado mais de R$ 1 bilhão desde 2009 para enfrentar o problema, a crise hídrica forçou a empresa a conter esse investimento nos últimos anos, já que a redução do consumo levou a uma acentuada queda de receita. Como explicou Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil, especializado em saneamento básico e abastecimento de água, não se pode parar nunca de renovar o sistema, pois “o envelhecimento natural da rede faz com que esse índice (de perdas) piore sozinho e, por isso, é preciso investir de forma contínua para reduzir as perdas a longo prazo”.

Segundo dados da Sabesp, 51% da rede de abastecimento na Grande São Paulo em 2014 tinha mais de 30 anos de uso, o que mostra que o sistema não foi renovado quando deveria. Considerando-se que 65% do total de água desperdiçada corresponde a vazamentos em razão do mau estado das tubulações, é razoável esperar que esse problema seja enfrentado sem mais demora.