Único canal pago dedicado ao audiovisual brasileiro, o Canal Brasil corre o risco de perder os assinantes da segunda maior operadora do país, a Sky.

Desde o início do ano, o canal e a distribuidora travam uma guerra de bastidores. Primeiro, a Sky eliminou referências ao canal em seu site. Depois, suspendeu unilateralmente o fornecimento do Canal Brasil para novos assinantes. Recuou há dez dias, após uma reunião entre diretores de ambas as partes.

O Canal Brasil tem contrato com a Sky até 2014, mas as negociações foram reabertas com a retomada da oferta do canal para novos assinantes.

O blog apurou que a Sky pressiona para que o Canal Brasil reduza seu custo. O canal é considerado caro pelas operadoras. Tanto que não está no pacote básico de nenhuma delas, o que o encarece. A Sky deve manter o Canal Brasil em seu line-up para novos clientes somente até o final do ano, caso não consiga reduzir o preço que paga pelo canal.

Consultada pelo blog antes da retomada da oferta do Canal Brasil aos novos assinantes, a Sky informou apenas que se tratava de uma “decisão comercial”. Ou seja, financeira. O Canal Brasil emitiu nota mais contundente:

“Desde o início do ano, os novos assinantes de pacotes e combos da Sky não têm mais acesso ao Canal Brasil. Apenas os antigos assinantes podem assistir aos filmes nacionais e programas como Tarja Preta, de Selton Mello, Espelho, de Lázaro Ramos, e O Estranho Mundo de Zé do Caixão, de José Mojica Marins. Com a decisão, ainda não justificada oficialmente por parte da operadora, a Sky abre mão de seu único canal de conteúdo 100% dedicado à cultura brasileira. Fala-se em contenção de verbas”.

O curioso disso tudo é que Sky e Canal Brasil têm patrões comuns. Com 1,9 milhão de assinantes, a Sky no Brasil tem como principal acionista a DirecTV americana. A Globo Participações é sócia minoritária. Já o Canal Brasil é uma associação da Globosat, programadora de canais pagos da Globo, com cineastas e produtores de cinema nacional.

Não é a primeira vez que a Sky entra em atrito com um canal no Brasil. Em 2008, a operadora se recusou a pagar o que a MTV Brasil pedia por assinante e cortou o sinal do canal do Grupo Abril. A disputa foi parar na Justiça e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Pode-se não gostar do Canal Brasil e da MTV brasileira. Mas são canais importantes para o país e deveriam ser defendidos (a MTV, mesmo sendo uma franquia americana, tem características brasileiras). Critica-se o Canal Brasil por exibir pornochanchadas, porém elas fazem parte da cultura audiovisual nacional.

Países como a França estimulam a produção cinematográfica nacional e atrelam o incentivo financeiro à exibição na televisão. Desde os primórdios do cinema, os americanos sabem que o audiovisual é uma forma eficiente de criar identidade nacional e de dominação cultural.

A indisposição de grupos de capital majoritariamente estrangeiro com conteúdos brasileiros pode ser um tiro no pé. Reforça os argumentos dos defensores de cotas para canais brasileiros e estimula discursos radicais, como os que, equivocadamente, enxergam nos seriados americanos apenas “entulho cultural”.

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