Os cortes de base da operadora de DTH do grupo Claro Brasil, a Claro TV, tiveram forte impacto na acentuada perda de base do mês de novembro divulgadas pela Anatel no final de 2018.

Segundo dados da agência, o mercado de TV paga perdeu em apenas em novembro nada menos do que 119,3 mil clientes. Foi a maior perda mensal do ano, superando o número de fevereiro.

A Claro TV (DTH), sozinha, perdeu 62 mil clientes em novembro. A retração da base da Claro TV já havia sido antecipada pelo presidente do grupo Claro, José Félix, em entrevista a este noticiário em novembro, em função de um longo processo de limpeza de assinantes inadimplentes. Mas este é um fenômeno muito mais longo, que dura exatos quatro anos, e que sozinho poderia explicar toda a erosão da base de TV paga ao longo deste período, mesmo considerando o cenário econômico adverso e o crescimento dos serviços de streaming.

Se voltarmos ao mês de novembro de 2014, o mercado brasileiro de TV por assinatura chegava ao seu ápice, com 19,8 milhões de assinantes. Foi o maior número de assinantes do serviço tradicional já registrado pela Anatel. Desde então, o mercado vem gradualmente se erodindo, com uma perda total de 2,23 milhões de clientes. Conforme os dados da agência, a base de assinantes de TV paga chegou a 17,58 milhões de clientes em novembro último. Acontece que no mesmo período de quatro anos a base de assinantes da Claro TV caiu 2,19 milhões de clientes, o que explicaria numericamente, por si só, praticamente toda a queda de mercado no período, que teve ainda três anos de recessão/estagnação econômica. A operadora registrou em novembro de 2018 1,58 milhão de usuários.

Mesmo com a crise e mudanças de modelos de negócio, outras operadoras cresceram durante esse período de quatro anos, como a Oi TV (ganho de quase 400 mil clientes) e a Net (operação de cabo do grupo Claro Brasil, que cresceu em quatro anos de crise 360 mil assinantes, considerando algumas operações incorporadas no período). A Sky, que também opera exclusivamente o modelo de DTH, teve uma queda de 400 mil assinantes em quatro anos, e a Vivo TV (considerando a consolidação com a GVT que aconteceu no período) ficou praticamente estável. Entre as pequenas operadoras a queda foi de quase 200 mil clientes em quatro anos. Com toda a crise econômica e com a mudança de modelo trazida pelos serviços de streaming, o fato é que o desempenho específico da Claro TV foi determinante para a queda no mercado de TV paga. No período, todas as operadoras, com exceção da Oi TV, apresentaram variações de vendas e predominantemente têm tido um resultado de estável para negativo, especialmente nos últimos dois anos, mas nenhuma da intensidade vista na Claro TV.

 

Operadoras Nov. 2014 Nov. 2018 Variação 2014 a 2018
Claro Brasil (consol.) 10.501.486 8.672.360 -1.829.126
ClaroTV 3.778.252 1.584.508 -2.193.744
Net 6.723.234 7.087.852 364.618
Sky 5.643,299 5.233.074 -410.225
Vivo TV 759.992 1.577.918 817.926
Oi TV 1.204.860 1.602.050 397.190
Via Cabo* 153.571 Incorporada pela Net
Algar 122.609 85.411 -37.198
GVT TV * 870.908 Incorporada pela Vivo TV
Outras 555.198 410.885 -144.313
Total TV Paga 19.811.923 17.581.698 -2.230.225
 - - - -
Banda Larga Fixa 23.941.892 31.058.064 7.116.172
Fonte: Anatel.

 

Razões

As explicações para a perda de base na Claro TV estão, por sua vez, intimamente atreladas à mudança no cenário econômico dos últimos anos. A operadora foi a que mais surfou na onda de crescimento da classe C que vigorou até 2013, com uma estratégia agressiva para este mercado, o que proporcionou anos seguidos de forte expansão, mas acabou sendo também a mais penalizada quando a crise econômica e o desemprego afetaram esta faixa da população, sobretudo a partir do ano de 2014. Esse "efeito ressaca" coincidiu ainda com o processo de consolidação do grupo Claro Brasil, quando Net, Claro e Embratel se tornaram uma só empresa. Em decorrência desta fusão, priorizou-se no grupo a expansão da TV paga por redes de cabo nas cidades em que havia rede física disponível. Por conta disso, boa parte da rede de distribuição e instalação da Claro TV também acabou desmobilizada. O produto DTH só passou a ser reposicionado a partir do segundo semestre de 2018.

As demais operadoras de DTH seguiram caminhos um pouco diferentes: a Sky, que também colheu parte dos frutos da expansão da classe C, tinha forte presença nos segmentos de alta renda dos mercados onde não havia cabo, até por ser a operadora de satélite mais antiga. A Vivo TV, depois de adquirir a GVT, focou sua estratégia de TV paga na distribuição por fibra, abandonando aos poucos o DTH. E a Oi TV cresceu com a oferta de pacotes combinados com TV paga via satélite, banda larga fixa com xDSL e telefonia móvel sobretudo nos mercados em que atuava sem concorrência, agregando a este pacote uma grande quantidade de canais da TV Globo em HD. Enquanto isso, pequenos operadores, que esperavam uma forte expansão do mercado de TV paga, optaram por focar apenas na banda larga por fibra, diante das dificuldades regulatórias e dos custos operacionais (sobretudo programação) para se tornarem operadores de TV por assinatura no modelo regulado do SeAC.

A análise dos números acima, entretanto, não exclui o fato de que aspectos e mudanças estruturais da indústria não estejam afetando a TV por assinatura. Até 2014, o crescimento da TV por assinatura e da banda larga aconteciam de forma quase paralela. Mas nos últimos quatro anos, a partir do final de 2014, quando a TV paga passou a perder base, os mercado de banda larga fixa e móvel seguiram crescendo de maneira consistente. Nas tecnologias fixas, por exemplo, o mercado de banda larga foi de 24 milhões de assinantes para 31 milhões (novembro de 2014 contra novembro de 2018). Foram 7,1 milhões de assinantes a mais mesmo com a crise econômica, boa parte deles trazidos por pequenos ISPs que entraram no mercado. O fato de a TV por assinatura não ter acompanhado este crescimento, mesmo descontando o peso da retração da Claro TV, pode dar a dimensão de quanto o crescimento dos serviços de streaming, a pirataria e o desgaste do modelo tradicional de TV paga estão afetando a indústria de TV por assinatura. Ou seja, se a erosão do mercado no período pode ser atribuída à crise e ao desempenho sobretudo da Claro TV, a ausência de crescimento pode ter razões mais estruturais.

 

Resultados em novembro

De qualquer maneira, os números de assinantes de TV paga divulgados pela Anatel para novembro mostram, mais uma vez, que apenas a Oi TV conseguiu manter consistência de crescimento. A Claro TV, como já dito, perdeu 62,6 mil clientes no mês, fechando com 1,58 milhão de clientes. A Net perdeu 25,7 mil assinantes no mês de novembro, com uma base total de 7,09 milhões de assinantes. A Sky perdeu 9,2 mil, para chegar a uma base de 5,23 milhões. a Vivo TV perdeu 13,4 mil assinantes no mês, fechando com 1,57 milhão (note-se que a distância da Vivo TV para a Claro TV está cada vez menor). Pequenas operadoras tiveram uma queda de 10 mil assinantes (total de 490 mil). Só a Oi TV manteve crescimento em novembro, com acréscimo de 3 mil clientes, totalizando uma base de 1,6 milhão de assinantes.

 

 

Go to top
JSN Boot template designed by JoomlaShine.com