Um serviço de TV por assinatura totalmente OTT já está em operação na América Latina e deve fechar o ano com mais de 1 milhão de assinantes.

Trata-se do Flow, da Telecom Argentina, empresa fruto da união da Telecom com a Cablevisión, maior operadora de cabo local.

O serviço, de acordo com Guillermo Paez , diretor Content Delivery Platforms na empresa, começou em 2016 e segue em constante evolução. Ele conta com duas modalidades de assinatura: o Flow App, baseado exclusivamente por aplicativos (oferecido gratuitamente para quem tem pacotes HD do serviço tradicional); e o Flow Box, que conta com uma caixa OTT dedicada. O serviço fechou o ano de 2016 com 115 mil assinantes na versão com aplicativos e 50 mil na assinatura com a caixa. No ano passado já contava com pouco mais de 800 mil. A projeção para 2018 é fechar com 787 mil assinantes do serviço pelo app e mais 495 com a caixa.

 

Experiência

De acordo com Paez, que participou de evento realizado pela Arris em Miami nesta quarta, 22, os hábitos de consumo do serviço diferem dos assinantes do serviço tradicional de TV paga.

O consumo de conteúdo não-linear, por exemplo, é maior no OTT. Entre assinantes do Flow, 80% assistem pelo menos um conteúdo não-linear por mês, contra apenas 30% no serviço tradicional da Cablevisión.

O uso da plataforma para divulgar dados das partidas de esportes também surtem efeitos no serviço. Segundo o executivo, 58% da audiência pelo serviço OTT usa a ferramenta para acessar dados. Além disso, quando a ferramenta está disponível, a audiência cresce 18%.

 

Desafio

De acordo com Paez, o projeto começou a ser desenvolvido em 2013, mas a solução tecnológica adotada foi abandonada e o projeto recomeçou do zero em 2015, com o lançamento em 2016. "O ecossistema é muito complexo. Juntamos diversos fornecedores, cada um com uma especialidade", disse. Os fornecedores foram Arris, Anevia, Contentwise, Minerva e Verimatrix. A escolha foi, sempre, por padrões de arquitetura aberta."Não queremos depender do robô de ninguém. Temos pessoas de marketing, produto, engenheiros, tentando construir a experiência do Flow", completou.

O plano agora é ampliar a oferta de conteúdos de terceiros, não apenas de programadoras de TV. O serviço já conta com integração com Youtube, rádios online e outros serviços de música. Deve adotar em breve o Netflix também. "Nós somos agregadores e prover conteúdos de terceiros é o nosso negócio. Talvez o desafio seja grande e as margens fiquem menores, mas é o que o consumidor espera de nós", explicou.

 

Migração

Jeff Weber, diretor de sistemas avançados de engenharia da Arris, mostrou no evento algumas maneiras para permitir que as operadoras façam uma migração gradual da plataforma de vídeo baseada em QAM, para o IP. Ou seja, sem abandonar o legado tecnológico.

"As operadoras de cabo têm sido redes de vídeo que também transportam dados. Precisam mudar", disse. Para ele, é um caminho natural que os operadores de cabo sejam agregadores de conteúdos. Para Jonathan Ruff, diretor de marketing da Arris, a aliança entre serviços OTT e serviços tradicionais de vídeo faz a indústria mais forte.

A solução gradual consiste ampliar a oferta de vídeo IP enquanto o tráfego QAM cai dentro da rede. Para liberar banda para o processo, sugeriu algumas soluções, como abandonar a transmissão de vídeo analógico, ainda presente na maioria das redes de cabo da América Latina. Além disso, a migração para encodamentos mais eficientes também libera espaço. Mesmo na transmissão de vídeo em QAM, as operadoras podem adotar a compressão H.264.

Com a migração, aponta o executivo, o OTT acaba virando um overlay da rede que permite trazer novos assinantes e, sobretudo, reter os cord cutters potenciais.