2016 foi um ano de retração na economia, alimentada por uma recessão profunda, que provocou uma onda de desemprego e queda no PIB. A atividade econômica despencou e provocou o enfraquecimento de indústrias, comércios e serviços. A reboque dos acontecimentos, nos últimos 12 meses foram fechados 1,47 milhão de postos de trabalho no Brasil. Isso significa que a cada hora, 243 pessoas perderam o emprego. O mais cruel é perceber que em 2017 o desemprego continuará em alta e o PIB não deverá registrar aumento.

Aumento esse difícil de acontecer, pois 60% do PIB brasileiro estão baseados no consumo das famílias, que por sua vez continuam freando o consumo por causa da perda de renda e do desemprego.

"O desemprego poderia ser definido como uma crueldade para com o ser humano. Retirar o emprego de uma pessoa é retirar a sua dignidade. O cidadão desempregado acaba perdendo o chão que pisa e a esperança em dias melhores. Já somos mais de 12 milhões de desempregados, num país cheio de riquezas e de uma população trabalhadora e incansável. Até quando vamos continuar sofrendo? Temos que dar um basta e cobrar do governo federal políticas e atitudes para voltarmos a crescer e gerar empregos", diz Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A cada hora, 243 pessoas perdem o emprego no Brasil. Em Pernambuco, um dos Estados com maior fechamento de vagas no País, são oito pessoas saindo do mercado a cada 60 minutos. Os números refletem a maior recessão brasileira, trazendo conseqüências como redução do consumo, aumento da inadimplência e avanço da informalidade. O cálculo foi realizado pelo economista Alexandre Cabral, que pretende tornar o indicador mensal. O índice nacional de emprego/desemprego por hora será batizado de ICH – Índice de Contratações por Hora.

“Resolvi popularizar a estatística porque a informação que se tem hoje é de que 11% da população brasileira está desempregada, mas existem muitas nuances nessa conta. Eu usei o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) para fazer o cálculo, tomando como base os últimos 12 meses (de dezembro de 2015 a novembro de 2016) para evitar a sazonalidade”, explica Cabral. O cadastro monitora admissões e demissões de trabalhadores com carteira assinada pelo regime da CLT. Nesse intervalo, o Brasil fechou 1,47 milhão de vagas de emprego formal.

“Parto da informação que, nos últimos 12 meses, foram fechados 1.472.619 postos de trabalho, divido esse número por 252 dias úteis (padrão de um ano), uma vez que o número de pessoas contratadas e demitidas em um fim de semana não é muito relevante. Finalmente, pego esse resultado e divido por 24 horas, pois temos trabalhadores em vários turnos ao longo do dia”, detalha o economista.

O fechamento de 243 vagas por hora não foi o maior já registrado pelo indicador. Entre janeiro de 2015 e novembro de 2016 o ICH foi de 306 demitidos por hora. Na avaliação de Alexandre Cabral, as demissões vão continuar em 2017 e o PIB deverá ser negativo ou zero. “Janeiro e fevereiro são, tradicionalmente, meses demissionários. Em março e abril a situação melhora um pouco, mas nada com consistência para alterar o cenário. A atividade econômica deverá continuar em baixa porque 60% do PIB brasileiro está baseado no consumo das famílias. Com o desemprego, as famílias continuam freando o consumo”, afirma.

 

PERNAMBUCO

No período analisado pelo economista, o Estado perdeu 50.282 vagas de emprego. Isso é o equivalente a oito pessoas demitidas por hora. A maior concentração está no Recife, com sete desligados por hora e 39.849 vagas fechadas. Por conta da seca, que já completa cinco anos, a agropecuária foi o setor com maior fechamento de vagas no Estado (-2,749). A construção civil aparece em seguida (-2,386), puxada para baixo tanto pelo desaquecimento do mercado imobiliário quanto pela paralisação de grandes obras.

Na contramão do que acontece no Estado, em âmbito nacional, Cabral acredita que um setor que poderá ajudar na recuperação do emprego é o agronegócio. “A atividade pode destinar parte de sua produção para o mercado externo. Dos dez principais produtos embarcados pelo País, nove são do agronegócio. Por outro lado, não há sinal de recuperação para a construção civil”, analisa.

Cabral acredita que o governo Temer vai conseguir aprovar algumas das reformas, porque detém maioria no Congresso, mas será a custa de muita negociação. No caso da Previdência, por exemplo, ele acredita que a proposta exagera para ter margem de negociação. Na reforma trabalhista, a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS não deverá representar aumento de consumo. “As pessoas devem usar os recursos para pagar dívidas e isso não vai significar aquecimento da atividade econômica”, conclui.