"Ao que tudo parece à inflação não dará trégua em 2016. As tentativas do governo em baixar os preços através do aumento das taxas de juros, até o momento parece não fazer efeito. Mas, se não bastasse à notícia de que teremos uma inflação ao longo deste ano de quase 8%, descobrimos também que existe uma carga inflacionária remanescente de 2015. Como será o futuro, se mal começamos o ano e as expectativas dos economistas não são nada animadoras? Sequer sabemos qual o rumo que a economia tomará. Enfim, estamos numa profunda recessão, fruto desta política inflacionária do governo federal, analisa Canindé Pegado, presidente do SINCAB".

Metade da inflação em 2016 será fabricada pelos fantasmas dos aumentos de preços passados e futuros.

A profunda recessão, na qual o país está mergulhado no presente, não tem contribuído para amainar a escalada do custo de vida, que deverá subir quase 8% neste ano, prevêem economistas.

Na teoria, a contração desestimularia remarcações de preço, pois menos gente estaria disposta a pagar mais caro por um produto ou serviço. Mas, na prática, outro fenômeno econômico entrou em ação: a persistência ou inércia inflacionária.

Cálculo do economista Leandro Padulla, da consultoria MCM, prevê que a inflação será de 7,7% em 2016 –metade (3,8 ponto percentual) virá da "herança" de aumentos de preços de 2015 (fantasma da inflação passada) mais a expectativa de que eles seguirão subindo (fantasma da inflação futura).

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, afirma que este é um dos "mistérios" com que os economistas brasileiros terão de lidar neste ano.

"Já que estamos diante da talvez maior recessão da nossa história, por que a inflação não cai mais?", questiona. A inflação de 2015 foi de 10,7%.

 

'NÃO É NORMAL'

"Em 2015 foi simples: os preços subiram devido à correção dos administrados, como transporte e energia, e também pela alta do dólar. Neste ano, estes choques não deverão se repetir, mas expectativas continuam jogando a inflação para cima de 7,5%. Isso não é normal".

Mesmo com evidentes sinais de piora da crise econômica a partir do segundo semestre do ano passado, as expectativas de aumento de preços só cresceram.

Em estudo, os economistas Alexandre Schwartsman, colunista da Folha e ex-diretor do BC, e Mauricio Schwartsman mostram que as expectativas aferidas a partir das cotações de títulos do governo indexados à inflação sugerem algo pior: inflação de 9% a 9,5% daqui a 12 meses.

Segundo os dois, uma análise histórica dos dados brasileiros revela que a recessão e o desemprego só tendem a puxar os preços para baixo quando as expectativas de inflação ficarem estáveis. O oposto do quadro atual.

Para Padovani, a explicação passa por uma análise comportamental: quanto maiores são as incertezas, maior tende a ser o estímulo para olhar o passado.

"Com a crise política, a alta do dólar e o aumento do risco-país, os agentes se agarram no que conhecem, ou seja, na inflação passada", diz.

Ao remarcarem seus preços olhando para trás, conectam o passado ao futuro, alimentando uma inflação alta pelos próximos meses e anos –para analistas, a inflação não volta para a atual meta (4,5%) nem em 2020, segundo a pesquisa Focus, do BC. 

 

 

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