Cortes de vagas devem se intensificar neste ano e o desemprego crescerá em 2016. Economistas e consultores preveem que, após o ajuste na economia, a recuperação será lenta

Passado o período de ajuste fiscal, a retomada da economia brasileira deve começar a ocorrer a partir do segundo semestre do ano que vem. E, se confirmado este cenário, o reaquecimento do mercado de trabalho se dará apenas a partir de 2017.

Antes dessa melhora, contudo, haverá uma intensificação no corte de vagas em 2015 e uma manutenção da taxa de desemprego em níveis mais altos que os atuais ao longo de 2016.

Especialistas estimam que os efeitos da recuperação econômica levarão de três meses a um ano para se refletir na taxa de ocupação. "O mercado de trabalho mal começou a piorar", afirma o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fábio Silveira, para quem a situação continuará difícil até o ano que vem. "O que a gente não vai ver é a retomada do emprego nos próximos dois anos", diz.

De acordo com Silveira, o lado real da economia tem ajustes mais lentos que o mercado financeiro. As pessoas foram sendo progressivamente demitidas na indústria e o fenômeno começou a atingir os serviços e o comércio mais recentemente. "Nestes setores, o esfriamento do mercado de trabalho está mal começando e vai se desenrolar ao longo de 2015 e 2016", prevê.

Rodrigo Leandro de Moura, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), estima que a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua passe de 6,8% em 2014, para 7,7% em 2015 e chegue a 8,4% em 2016.

Segundo projeções da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação deve sair dos 4,8% registrados no ano passado, para 6,2% neste ano, chegando a 7,0% no ano que vem. "Isso revela que o desemprego deve subir mais rapidamente nas regiões metropolitanas", afirma.

E a recuperação tende a ser lenta. O economista da Fundação Seade, Alexandre Loloian, destaca que é mais fácil entrar em processo de estagnação e recessão. Para a retomada, será necessário criar condições para que as empresas voltem a investir e retomem a produção. Uma das alternativas, na sua opinião, poderia ser os programas de concessão e parcerias público-privadas (PPPs).

"O que se observa é que o desemprego tende a subir muito rápido com a recessão e, depois, são necessários vários anos de crescimento para o desemprego voltar a patamares baixos", complementou Moura, que destacou o fato de o País ter levado quase uma década para ver o desemprego cair de cerca de 10% para 5%, na PME. "Daqui pra frente, depende de quanto e como vão repercutir os ajustes que o governo está fazendo."

Antes de uma recuperação efetiva, os empresários devem recorrer ao aumento da jornada, ao pagamento de horas extras e até à contratação ilegal de trabalhadores, sem carteira de trabalho, na avaliação de Loloian. Segundo ele, estas práticas são comuns em momentos que antecedem a retomada do emprego. "Quando se consolida o quadro (de crescimento econômico), quando há essa garantia, nem que seja em um horizonte grande, é que o empresariado volta a contratar", observou.

Para Silveira, da GO Associados, dado o atual cenário, o nível de atividade da economia brasileira só deve começar a subir no segundo semestre de 2016 e, assim, o mercado de trabalho começaria a melhorar apenas no início de 2017.

"A defasagem é de seis meses a um ano", estima. A absorção dos demitidos pelo mercado de trabalho depende, segundo Silveira, das políticas públicas. "Passados os devidos ajustes, que não se resumem ao ajuste fiscal e a baixar a inflação, é preciso melhorar competitividade, baixar o nível de endividamento das famílias e haver ganho real de produtividade", afirma.

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