A China deve se tornar um dos maiores investidores financeiros no mundo na medida em que os capitais no exterior alcançarem o mesmo valor dos ingressos de recursos no país. Assim como a China se beneficiou de investimentos estrangeiros nas últimas três décadas, o mundo deverá também aproveitar o capital chinês nos próximos anos.

A China tem muito dinheiro para gastar: são US$ 3,82 trilhões em reservas em moeda estrangeira1 e US$ 7 trilhões em poupança2. O país já está transferindo uma parte desse dinheiro para ativos internacionais sólidos. O investimento direto da China no exterior (ODI, na sigla em inglês) totalizou US$ 90,2 bilhões, com um crescimento de 16,8% em base anual, ficando só um pouco abaixo dos US$ 117,6 bilhões de investimentos estrangeiros diretos recebidos pela China3.

O país asiático ainda depende muito das importações de matéria-prima e energia, o que o torna especialmente vulnerável a elevações inesperadas de preços internacionais. A estratégia chinesa de direcionamento de ODI é claramente projetada para amenizar essa vulnerabilidade. Essa tática levantou suspeitas, especialmente dos países do Ocidente.

Os bancos chineses de desenvolvimento já emprestaram mais para a América Latina do que o FMI, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento juntos. Os US$ 85 bilhões emprestados desde 2005 foram para quatro países: Venezuela, Brasil, Argentina e Equador

Muitos consideram essa estratégia uma ameaça aos mercados competitivos. Mas, considerando-se que a China continuará acreditando nos mercados livres, tanto para suas importações como para exportações, parece mais do que provável que a estratégia de Pequim seja garantir que os mercados internacionais continuem a operar tranquilamente, em vez de debilitá-los.

Os recursos investidos no exterior pelas companhias privadas já estão diluindo o papel das empresas estatais chinesas quando o assunto é o investimento direto a partir do país. Com esse novo posicionamento, o interesse e a motivação para investir fora da China estão mudando. Mais investidores estão querendo participar de novos mercados, adquirir tecnologia avançada e aumentar a competitividade. É provável que as empresas privadas se tornem a força motriz dos investimentos chineses no exterior na próxima rodada de investimentos.

Uma parte do investimento direto chinês foi usada para adquirir tecnologia e experiência de produção do Ocidente - um bom negócio na esteira da crise financeira global. No momento, porém, o investimento da China está focado em recursos no mundo em desenvolvimento, 80% do total de fluxos vão para mercados emergentes, em vez dos desenvolvidos4.

Em nenhum lugar isso é mais evidente do que na América Latina. A Ásia ainda é o maior destino do investimento direto chinês, mas a América Latina já ocupa o segundo destes investimentos5. Quase 20% do ODI chinês foram para a América Latina.

Os maiores recursos vão para as áreas de energia, mineração e infraestrutura, que já receberam recursos de dez empresas estatais chinesas nos últimos anos. Esses investimentos constituem 65% dos US$ 84 bilhões de ODI da China.

Conforme projeções, o Brasil deverá responder por um terço da produção mundial de petróleo até 2030. Prevemos que a participação chinesa nos próximos leilões de petróleo possa levar ao envolvimento de companhias chinesas na expansão do refino de petróleo da Petrobras no valor de US$ 65 bilhões nos próximos cinco anos, e elas já participaram no plano de venda de US$ 11 bilhões da Petrobras. A China deverá ser o maior investidor na mineração do Peru, uma vez que o investimento chinês representa quase um quarto dos US$ 57 bilhões em investimento previstos para 50 projetos previstos para os próximos anos6.

A China está interessada em investir na América Latina, principalmente nos setores de agribusiness, automotivo e bens de capital, que parecem ser o foco provável da próxima onda de ODI chinês. Os fabricantes de automóveis chineses já conquistaram 23% do mercado automotivo nos países menores da América Latina. Pela primeira vez, vários fabricantes chineses de automóveis estão instalando fábricas no Brasil, com uma capacidade de produção equivalente a 10% do volume total produzido no Brasil em 20127.

Com o crescimento do fluxo comercial, prevemos que os principais bancos comerciais da China aumentarão a sua presença na região. Os bancos chineses de desenvolvimento já emprestaram mais para a América Latina do que o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento juntos. Os US$ 85 bilhões emprestados desde 2005 - com predomínio de apenas dois bancos - foram direcionado para os setores de infraestrutura, mineração e energia em apenas quatro países: Venezuela, Brasil, Argentina e Equador8.

Os investimentos externos têm um longo caminho a percorrer para alcançar o poderio econômico da China, que responde por 10% do PIB global, mas apenas por 2% do investimento no mundo. Pequim está estimulando mais empresas a se interessarem por investimentos no exterior. Os formuladores de políticas elevaram para US$ 300 milhões o nível mínimo dos investimentos que necessitam de aprovação para a categoria de recursos e US$ 100 milhões para projetos na categoria de não recursos. Espera-se que o governo simplifique o processo dessas aprovações9.

A ascensão da China como potência econômica e comercial foi um dos temas econômicos decisivos que marcaram as últimas duas décadas, mas a internacionalização da economia chinesa tende a moldar os próximos 10 anos de um modo que hoje só nos permite especular. Embora o mundo ainda aguarde o nome de uma marca verdadeiramente global vinda da China, esse processo ainda deve demorar.

1- www.bit.ly/1lOKuB4

2 - Estatísticas do Banco do Povo da China

3- www.bit.ly/MjKdcV

4 a 9 - Pesquisa Global do HSBC "South-South Special"

Robin Phillips é diretor mundial de operações bancárias do HSBC

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