A recessão tem sido para a maioria dos brasileiros um dos piores traumas já sofrido nos últimos anos. Quase 12 milhões de pessoas sabem exatamente o que é sofrer com o desemprego. Entre eles estão cidadãos idosos, que viram suas chances de encontrar trabalho minguar de repente. O desemprego entre as pessoas com mais de 59 anos passou de 2,05% no último trimestre de 2014 para 4,75% no segundo trimestre de 2016 - alta de 132%.

Segundo estudo divulgado pelo IPEA, o desemprego entre os mais velhos não tem origem em cortes provocados pelas empresas, mas principalmente pelo aumento do número de idosos procurando emprego para complementar a renda e sustentar suas famílias. O número de pessoas nessa faixa etária trabalhando cresceu durante a recessão, saltando de 20,7 milhões ao final de 2014 para 21,4 milhões em junho de 2016.

"É triste saber que depois de uma vida inteira trabalhando de sol a sol, o cidadão ao invés de desfrutar da paz e tranqüilidade que lhe reserva a aposentadoria, tenha que voltar a procurar emprego para poder suprir as necessidades básicas de suas famílias. Esse é sem dúvida o resultado de uma economia dilacerada e sem perspectivas futuras, que não poupa os jovens e nem tão pouco os mais velhos, ressalta Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A recessão que castiga o mercado de trabalho há dois anos levou a taxa de desemprego entre os idosos mais do que dobrar no período. De acordo com estudo divulgado pelo IPEA nesta terça-feira, o desemprego entre as pessoas com mais de 59 anos passou de 2,05% no último trimestre de 2014 para 4,75% no segundo trimestre de 2016 - alta de 132%. Quando se observa a dinâmica do mercado de trabalho em 2016, a piora para esse grupo é ainda maior. Enquanto entre os jovens, que têm a maior taxa de desemprego, o índice se estabilizou na casa dos 26%, entre os idosos o salto foi de 44% - passou de 3,29% no primeiro trimestre para 4,75% no segundo trimestre deste ano.

O coordenador da publicação, o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea José Ronaldo Souza Jr, explica que o aumento do desemprego entre o grupo de maior faixa etária ocorreu não devido a cortes nas empresas, mas principalmente pelo aumento do número de idosos procurando emprego para complementar a renda. Os números mostram que a quantidade de pessoas dessa faixa etária trabalhando inclusive cresceu durante a recessão. Eram 20,7 milhões ao final de 2014 e chegaram a 21,4 milhões em junho de 2016. No mesmo período, o número de desempregados nesse grupo quase dobrou. Passou de 545 mil no final de 2014 para 1 milhão em junho de 2016.

— Apesar de ter um peso do aumento demográfico aí. Ou seja, mais pessoas completaram 60 anos nesse período, muitos idosos tiveram de deixar a inatividade para procurar trabalho. O problema é que esse grupo tem dificuldades de se inserir. Primeiro porque estava fora do mercado, segundo, porque se questiona, muitas vezes, o quão produtivos ainda são — avalia Souza Jr.

 

Segundo o técnico do Ipea, eles são vistos pelos empregadores como uma mão de obra experiente mas que, pelo avançar da idade, podem ter perdido a capacidade para trabalhos que exigem força física. Têm mais chances de ser inseridos em funções operacionais, como é comum nas redes de varejo e em cargos de coordenação, em razão da experiência.

A demógrafa Ana Amélia Camarano, especialista em estudos sobre envelhecimento da população brasileira, diz que a dificuldade de idosos serem contratados é fruto de preconceito:

— Os empregadores preferem contratar uma pessoa de 40 anos, porque para ele pode pagar um salário menor, e não terá de fazer adaptações no ambiente de trabalho. Também há receio das empresas de que os idosos não consigam se adaptar às novas tecnologias.

 

Ambos analisam que essa realidade terá de mudar no futuro, já que a população brasileira caminha para um maior envelhecimento e redução da população jovem. Um terço da população brasileira será formada por pessoas com 60 anos ou mais em 2060. Serão 73,5 milhões entre os 218,1 milhões habitantes do país. Em 2045, a população brasileira já começará a diminuir, segundo as projeções do IBGE. Dessa forma, o mercado de trabalho teria de se adaptar a uma mão de obra mais velha.

— No futuro, os idosos serão melhor absorvidos pelo mercado, mas isso ocorrerá não por uma questão cultural, mas pela escassez de mão de obra jovem. É uma mudança de perfil da população ocupada que obrigará investimentos em mobilidade urbana adequada e adaptações no ambiente de trabalho para receber os mais velhos — diz Ana Amélia.

 

MERCADO PIORA MAIS PARA CHEFES DE FAMÍLIA

O aumento do desemprego entre os idosos pode ser explicado, em parte, por outro dado evidenciado pelo estudo do Ipea. O trabalho mostra que a taxa de desemprego entre os chefes de família quase dobrou durante a recessão. Passou de 3,38% no último trimestre de 2014 para 6,55% no segundo tri deste ano. São considerados chefes de família, explica o técnico do Ipea, a pessoa considerada a responsável pelo lar pelos demais integrantes. Geralmente, por ser o maior provedor de renda. O que, segundo Souza Jr, torna esses números ainda mais dramáticos:

— A perda do emprego pelo chefe de família é reflexo direto da destruição do trabalho com carteira. É um dado que produz um efeito muito grave. Se o chefe de família perde emprego, isso leva outros membros, como os jovens e idosos, a saírem de casa para encontrar uma vaga, aumentando a fila do desemprego, e impacta na questão do consumo, prejudicando a retomada da economia.

 

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