Entrada das operadoras de telefonia fez aumentar a concorrência pelo segmento onde há mais espaço para crescimento da oferta de serviços

RIO - Após a entrada das operadoras de telefonia fixa no mercado de TV por assinatura, as empresas de telecomunicações começaram uma corrida pelos consumidores da classe C para tentar ganhar mercado - ou continuar nele. O segmento, de famílias com renda mensal de até R$ 1,4 mil, é hoje o que mais engorda a base do setor. E as novas ofertas chegam a ser mais baratas do que o cobrado por alguns serviços clandestinos de favelas do Rio.

A disputa por esses clientes, no entanto, traz um desafio adicional às empresas, já que os consumidores que debutam hoje no mundo da TV paga são os mesmos que querem se lançar no acesso à banda larga, comprar seu primeiro computador e seu primeiro celular 3G.

"A classe C tem um apetite enorme por computador, banda larga e TV. As empresas competem pelos gastos com esses serviços tecnológicos", diz o analista-chefe de telecomunicações do Santander, Valder Nogueira. "O pacote de TV é um mal necessário. É um serviço adicional oferecido com o objetivo de cravar o cliente num outro serviço que dê maior margem de lucro."

Apenas na semana passada, a operadora de TV paga Sky reduziu seus preços para R$ 49,90, num novo pacote, contra os R$ 74,90 de sua oferta mais barata até então. Além disso, a empresa anunciou a expansão de seu recém-lançado serviço em favelas do Rio com a presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A operadora de telecomunicações Oi levou seu pacote simples, de R$ 34,90, para sete novos Estados, e anunciou a estreia de um serviço pré-pago para o próximo semestre, de olho justamente na baixa renda. E a Net afirma que cerca de 70% dos novos domicílios que entram em sua base de clientes vêm hoje das classes B2 (renda familiar de até R$ 2,3 mil) e C.

"É inegável a importância da classe C para o setor. A TV por assinatura tem quase 20 anos no Brasil, os domicílios de maior renda já foram trabalhados ao longo deste período. Agora, é a classe C que cresce", afirma Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da Net.

O aumento do setor despertou interesse até mesmo de algumas produtoras de conteúdo. A Sony Pictures na América Latina, que vende programação para operadoras, estuda um canal direcionado especialmente nas classes C e D, de olho nos serviços via satélite lançados, por exemplo, por Embratel, Oi e Telefônica.

Integração. Em geral, o serviço de TV por assinatura é vendido em pacotes integrados de banda larga e telefonia, como é o caso da Net. Carvalho diz que, apesar dos pacotes mais baratos para a classe C, com menos canais, a empresa ganha indiretamente com escala, redução de custos e venda de outros serviços.

A Telefônica diz que o desejo das classes C e D pelos serviços de TV por assinatura vem junto com o desejo por banda larga, e que a penetração cresce num ritmo acelerado graças à melhora do cenário macroeconômico do País. O executivo afirma que também está de olho nesse segmento para expandir sua base.

A exceção dos pacotes integrados é a Sky, que viu suas antigas parceiras, como a Oi, se tornarem concorrentes. Hoje, ela vende apenas os serviços de TV. "Todos entraram no meu negócio. Mas estamos tendo um ano maravilhoso, estamos no páreo. Precisamos ser agressivos em preço e oferta de produtos diferenciados", diz Agrício Neto, vice-presidente de marketing e programação da Sky.

No anúncio feito na semana passada, o diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Estratégia da Oi, Pedro Ripper, comentou que a TV por assinatura acaba servindo à companhia como uma âncora para segurar os 40 milhões de clientes de telefone fixo - serviço cujas assinaturas estão em queda no País.

Os preços dos pacotes lançados na semana passada competem em pé de igualdade com os cobrados, por exemplo, em serviços ilegais da Cidade de Deus, onde o sinal pirata custa entre R$ 30 e R$ 50, segundo a associação de moradores. A Oi está na comunidade há um ano, com mil clientes. A Sky acaba de entrar, com pacotes de R$ 44,90, captando algumas centenas de assinantes no primeiro mês. E diz que seguirá o governo do Rio nas favelas com a presença das UPPs, podendo oferecer serviços em até um mês após a entrada do poder público.

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